Quem olha a Jordânia, especialmente considerando que a maioria da sua população professa a fé muçulmana, mal imagina que o país guarda duas atrações super importantes para os cristãos e judeus: o local de batismo de Jesus e o Monte Nebo.
A nossa tendência é de olhar um país muçulmano e pensar que sempre foi assim. E por isso às vezes cometemos o pecado de esquecer alguns fatos históricos muito relevantes ao cristianismo e ao judaísmo aconteceram ali.
É preciso lembrar que nos tempos bíblicos, seja do velho ou do novo testamento, fronteiras, sejam elas físicas, culturais ou religiosas simplesmente não existiam.
Naqueles tempos, ainda que houvessem guerras, povos sendo escravizados e êxodo, havia uma relativa mobilidade geográfica e a ideia de fronteiras era totalmente diferente daquilo que vemos hoje.
Ademais, não tínhamos nações constituídas de forma organizada como temos hoje. Quando muito, existiam reinos com limites geográficos bastante incertos.
Ora, basta ver que hoje o local do nascimento de Jesus está na Palestina e o Santo Sepulcro (seja lá qual dos dois candidatos você escolher) está em Israel; isso para não falar de lugares como a igreja no bairro Copta do Cairo que acolheu a família de Jesus.
Além do local de batismo de Jesus e do Monte Nebo, acredita-se que as cidades bíblicas de Sodoma e Gomorra, ou melhor as suas ruínas, possam ter estar na Jordânia.
Para quem não se lembra, estas seriam as cidades dos tempos bíblicos que teriam sido destruídas por uma chuva de fogo enviada por Deus em punição pela conduta supostamente pouco correta de sua população.
Acredite você ou não na história bíblica, o fato é que encontraram na região de Wadi Araba cidades que teriam sido destruídas em algum tipo de catástrofe naquela época. O solo revelou que ocorreu um grande terremoto com liberação de lava que dependendo da força pode ter subido aos céus e sido interpretada como uma chuva de fogo.
Local de batismo de Jesus
“Então Jesus veio da Galiléia para que João, às margens do Jordão o batizasse”.
— (Matheus 3:13)
Para os cristãos em geral, a Jordânia guarda uma série de locais super sagrados e que merecem a sua visita.
Talvez o mais importante deles atende pelo nome de Bethany-Beyond-the-Jordan. É, pelo nome fica difícil de entender de que estamos falando, mas este é o nome oficial do local do batismo de Jesus Cristo às margens do Rio Jordão.
Sim, foi na fronteira entre Israel e Jordânia que João batizou Jesus Cristo, mais especificamente às margens do rio Jordão.
Ao norte do Mar Morto, o qual como já disse antes é banhado pelo Rio Jordão, ficam as ruínas de um lugar que na época de Jesus era utilizado para batismos.
Na colina de Elijah vivia João Batista, um senhor que antes mesmo de Jesus já era conhecido por realizar batismos à beira do rio. Ele viveu lá por cerca de 20 anos.
Contam que num primeiro momento João, reconhecendo tratar-se de Jesus e já sabendo de suas qualidades, negou-se e disse que o correto seria Jesus batizar a ele. Mas depois de muita insistência, ele aceitou batizá-lo.
A partir deste dia o lugar passou a ser de constante peregrinação.
O local de batismo de Jesus é surreal em vários sentidos.
A começar pela sua localização geográfica, afinal estamos falando do entroncamento entre Jordânia, Israel e Palestina em uma zona para lá de militarizada e vigiada.
Só para você ter uma ideia da relevância disso, até a trégua de 1994 que ajustou a fronteira entre Israel e Jordânia, toda esta área era cheia de minas terrestres.
O local de batismo de Jesus foi descoberto em 1899, mas os constantes conflitos impediam qualquer exploração mais aprofundada no sentido de confirmar ou não o local como sagrado.
Uma vez confirmado por arqueólogos e historiadores, o local passou a ser preservado e foi santificado por João Paulo II que em 2000 celebrou uma missa lá.
Mesmo sendo um lugar muito frequentado por fiéis, ele acabou sendo negligenciado e até certo ponto esquecido por muitos anos até porque muitos questionavam se este seria o lugar exato ou não.
Porém em 1897 descobriu-se um mapa em forma de mosaico em Madaba, uma cidade vizinha dali. Este mapa do século VI detalhou dentro do possível vários sites religiosos do Oriente Médio, e entre eles o local de batismo de Jesus.
Estudiosos começaram a vasculhar melhor a região, mas os constantes conflitos regionais impossibilitaram explorações mais precisas.
Apenas em 1994, com o tratado de paz entre Jordânia e Israel é que os arqueólogos e peregrinos puderam voltar ao local, inclusive para melhor estudá-lo.
As pesquisas mostraram que no passado (na época dos romanos) havia uma enorme piscina que era utilizada para batismos e também um monastério do século V.
Ao final concluíram que nada menos que 5 igrejas foram construídas nesta área em diferentes períodos da história.
Hummm… Por que construir tantas igrejas em diferentes períodos??? Só poderia ser porque algo de importante havia ali.
A confirmação da veracidade do local veio com a descoberta de lugares chave e descrições que haviam sido feitas por peregrinos entre os anos 500 e 800. Os arqueólogos analisaram as cartas que descreviam o local do batismo de Jesus e compararam com alguns achados nas escavações. Bingo! As descrições batiam perfeitamente com os achados (pilares de igrejas, marcos e piscinas batismais).
Por ser um lugar sagrado, eles não permitem que você simplesmente tome um banho de rio. Você pode é claro banhar os braços, mãos e rosto. Além de pegar um pouco de água para levar.
Dá para arranjar um batismo? Sim, no site oficial eles informam que: “How do I organize a baptism? There are currently two openings on the River Jordan itself where you can be baptized. One place is beside the Greek Orthodox church, and the other is near the Catholic church. In addition to these two places, we also have Baptism Fountains (for children), and a Baptism Pool (for adults) available. All water comes directly from the River Jordan. We need a day’s notice to arrange baptisms in the fountain or the pool.” Acho que vale fazer um contato para saber mais: rustom@baptismsite.com
Muitos consideram as águas ali sagradas por razões óbvias, mas mesmo assim, é altamente aconselhável que você não beba dela por conta da poluição rio acima.
Mas como conhecer este lugar incrível?
Até mesmo por ser uma zona absolutamente militarizada, ele só pode ser conhecido por meio de um tour guiado que dura 1 hora e é realizado em 7 idiomas diferentes a cada 30 minutos.
Você para o seu carro em um local designado e embarca em um micro ônibus para o site religioso. Mas mesmo assim você tem que fazer um trecho a pé, uns 2km – para quem não puder caminhar, eles prestam assistência. Traga um boné ou chapéu para o sol e uma garrafa de água que pode ir cheia com água portável e voltar com água do Rio Jordão!!!
Ah, já ia me esquecendo: tenha o seu passaporte em mãos para apresentar no local.
O horário é das 8h30 às 16h00 de novembro a março e até as 18h00 de abril a outubro (entradas até 1 antes do horário final). O ingresso na data da nossa viagem custava JOR 12 – confira no site do Bethany-Beyond-the-Jordan o valor atualizado. Quem tem o Jordan Pass, não paga nada.
Com banheiros e alguns petiscos para vender a infraestrutura é boa.
Como chegar? Se você estiver em Amã ou em algum hotel no Mar Morto, existem algumas excursões ou pode-se pegar um táxi ao custo de uns JOR 60. Não existe transporte público para lá.
Se tiver de carro vindo do Mar Morto a viagem é de uns 22km (aprox. 25min.).
Monte Nebo
Dali para outro local bíblico super famoso: o Monte Nebo.
Segundo a tradição foi do alto de seus 817m que Moisés viu a Terra Prometida dos Judeus.
Moisés é uma das figuras bíblicas mais interessantes, sendo reverenciado tanto por cristãos quanto por judeus, e até mesmo reconhecido por muçulmanos como um dos profetas da época, o qual para eles é chamado de Muça.
Segundo a tradição bíblica, ele teria libertado os judeus da escravidão no Antigo Egito, feito a travessia do Mar Vermelho e liderado os judeus por mais de 40 anos até chegarem na Terra Prometida (Israel). Isso sem esquecer que é creditado a ele o recebimento dos 10 Mandamentos direto de Deus no Monte Sinai.
Ou seja, estamos falando de uma figura para lá de importante na tradição das três mais influentes religiões do mundo.
Segundo a tradição religiosa, acredita-se que ele tenha falecido aos 120 anos no alto do Monte Nebo, pois segundo tal, Deus teria proibido ele de entrar na Terra Prometida. Ele levou todo mundo por mais de 40 anos e não pode entrar lá. 😢
Aqui uma curiosidade que liga Moisés a um outro personagem da nossa viagem. Dizem alguns historiadores que o faraó responsável pelo êxodo dos hebreus teria sido justamente Ramsés II que vimos no Museu Egípcio do Cairo.
Mas olhando a história, nem só de dificuldades foi a passagem de Moisés pelo Egito. Alguns estudiosos entendem que o conceito de monoteísmo que é uma das bases do cristianismo e judaísmo, Moisés teria adquirido justamente no Egito durante o reinado do faraó Aquenáton, pai de Tutankamon, que tentou implementar no monoteísta Antigo Egito, a adoração a um único deus.
Muitas escavações foram feitas em toda a área, mas não se tem certeza a respeito do local exato da sua sepultura.
Acho que nem precisava falar, mas a vista lá de cima é incrível e num dia claro dá mesmo para avistar o Mar Morto e Jerusalém que está uns 50km dali.
Além de ser um lugar super bonito em razão da natureza e da estupenda vista que se tem de lá de cima, não podemos deixar de considerar que o lugar tem uma energia incrível e nos faz lembrar da promessa/fé de dias melhores, algo que sempre movimenta todos nós.
No topo da montanha, há uma cruz com a serpente enrolada, o seu símbolo maior. Segundo a tradição, por uma blasfêmia dos hebreus, Deus teria enviado uma série de serpentes ao deserto, mas depois de uma prece de Moisés Ele teria pedido para que o líder enrolasse uma delas num cajado e o abençoado de forma que aqueles que olhassem para o cajado pedindo perdão seriam salvos do veneno.
Além do mirante, no topo há uma igreja em memória a Moisés, a Moses Memorial Church (JOD 2; de outubro a maio das 8h00 às 16h00 e de maio a setembro até as 18hs).
Trata-se de uma igreja do século IV que tem lindos mosaicos nos quais vários animais da região e da África estão representados.
O Monte Nebo fica uns 35km /40 min a partir do local de batismo de Jesus, sentido Amã, então para quem estiver na capital jordaniana também dá para visitar num bate-e-volta.