Uma guerra sempre marca as pessoas. Ainda que diferentes maneiras, elas sempre ficam na lembrança de quem viveu na pele, ou até mesmo de quem (felizmente) só viu pela TV, aqueles momentos. E por mais que o tempo passe, a imagem do conflito ainda fica na memória por muitos anos. Duvida? Experimente falar para os seus conhecidos que você vai para a Bósnia!
Entre uma cara de espanto e outra, certamente você irá topar com perguntas do tipo: mas o que você vai fazer lá? Nossa, não tinha outro lugar para ir? E por aí vai.
O fato é que estando na Croácia, a poucas horas da fronteira com este país, não poderíamos deixar de dar uma espiada em mais um país. Vejam que utilizei o termo espiada, porque querer conhecer um país em um único dia – salvo algumas raríssimas exceções que já falamos aqui – é algo impossível.
Aliás vamos à primeira correção: o nome do páis é Bósnia e Herzegovina, e não apenas Bósnia – mas vamos utilizar Bósnia para facilitar, ok?
Estudando sobre o país, ficou claro que as marcas do conflito que praticamente devastou os Bálcãs nos anos 90 ainda são bem evidentes, principalmente na capital Sarajevo, cujo nome meio que virou sinônimo de guerra. Nas áreas mais turísticas, pouco ou nada faz o visitante lembrar do conflito que tomou contornos étnicos.
Quem se interessar pela história local irá ficar abismado com as atrocidades cometidas durante a Guerra dos Bálcãs que durou de 1992 a 1995 e iniciou-se quando os sérvios não aceitaram o fato de que os bósnios, croatas e eslovenos (estes com menores reflexos), resolveram separar-se da antiga Iugoslávia.
O conflito tinha tudo para ser “apenas” uma briga territorial, mas a diversidade étnico-religiosa e doses absurdas de intolerância levaram o conflito a um outro nível. Um verdadeiro banho de sangue e ódio.
Durante a viagem para lá você ficará impressionado com a quantidade de cemitérios que há pelo caminho. Algo estarrecedor!
A Bósnia tem aproximadamente 4 milhões de habitantes que se dividem em quase 50% de muçulmanos (a maior população muçulmana da Europa) e o restante de cristãos (católicos e ortodoxos, estes últimos em maior número). Apenas para contextualizar, os bósnios de nascimento são muçulmanos, os croatas e sérvios que ainda vivem na região, são respectivamente católicos e ortodoxos. Na prática, os croatas e bósnios se aliaram contra os sérvios.
Desde os idos na Segunda Guerra Mundial, ao menos na Europa, não se ouvia falar de conceitos como genocídio, por exemplo.
Muito menos de algo que convencionou-se chamar de limpeza étnica, uma série de condutas para lá de cruéis cujo objetivo é literalmente desaparecer com um determinado grupo étnico, cultural ou religioso de um território.
Embora o evento mais famoso tenha sido o cerco de 3 anos à Sarajevo, o que levou a capital quase que à total destruição, outros eventos menores, mas não menos atrozes aconteceram no interior do país. Vilas foram dizimadas, mulheres bósnias forçadas a casarem-se com o inimigo, crianças exterminadas, e por aí vai. Os números, embora divergentes, dão conta de que mais de 200 mil bósnios perderam a vida.
A coisa foi tão feia que ao final do conflito, finalmente os maiores responsáveis foram levados à julgamento na Corte de Justiça Internacional de Haia por crimes contra a humanidade e genocídio.
Hoje, passados mais de 20 anos do término do conflito, a Bósnia vem ressurgindo como um destino turístico onde prevalesce a tolerância e a diversidade étnica.
A diversidade étnica é sentida claramente na política, já que a Bósnia adota um regime presidencialista tripartite, com um representante bósnio-muçulmano, um croata e um sérvio que se revezam no cargo de presidente a cada 8 meses do mandato de 4 anos. Ou seja, ninguém fica de fora.
A Bósnia tem três idiomas oficiais: bósnio, croata e sérvio. Embora você muito provavelmente não consiga notar a diferença entre eles, porque são ininteligíveis aos leigos, eles são mais falados em uma região ou outra, conforme a etinia da população local. Mas fique tranquilo que nas regiões mais turísticas, todos falam inglês.
Quem viaja de Split para Dubrovnik de carro, certamente irá viajar pela Bósnia. Ou melhor, por uma estreita faixa de território litorâneo que os croatas sederam à Bósnia para que o país tivesse acesso ao mar.
Entretanto, a pequena cidade ali existente é tão influenciada pela Croácia, que nem dá para notar que você mudou de país.
Para uma imersão um pouco melhor, a opção que melhor se encaixou no nosso itinerário e atendeu às expectativas foi fazer ao menos um bate-e-volta de Dubrovnik até a belíssima cidade de Mostar, a capital da Herzegovina (a porção sul do país).
Como já disse, longe de querer conhecer o país em apenas um dia, valeu muito a pena para ao menos ter um gostinho de como é a Bósnia.
Quando ir? Diferentemente da agitada Dubrovnik, Mostar não tem assim uma época onde procura seja tão alta que justifique sugerirmos uma época específica a ser evitada. Todavia, se você pensar no clima, acho que o verão europeu seria o ideal.
O clima em Mostar é mais ou menos parecido com o que se vê em Dubrovnik, com baixas temperaturas entre outubro e março e um clima mais quente no meio do ano. Além do verão não ser absurdamente quente, há ainda a vantagem de que chove muito pouco:
Mostar | ||||||||||||
Mês | Jan | Feb | Mar | Apr | May | Jun | Jul | Aug | Sep | Oct | Nov | Dec |
Max. (°C) | 8 | 10 | 14 | 19 | 24 | 27 | 31 | 30 | 26 | 21 | 14 | 9 |
Min. (°C) | 1 | 3 | 5 | 8 | 12 | 15 | 18 | 18 | 15 | 11 | 6 | 3 |
mm | 165 | 151 | 150 | 127 | 102 | 78 | 43 | 74 | 96 | 151 | 200 | 179 |
Quanto tempo? Até dá para conhecer Mostar em apenas um dia. Mas confesso que se tivesse um dia a mais de viagem pernoitaria ali tranquilamente, até mesmo para poder ver a cidade iluminada. Pois é, adoro poder apreciar os lugares à noite porque tenho um gosto enorme por fotos noturnas.
Mas na prática, acho que mais que 2 dias já seria demais.
Brasileiros não precisam de visto de turismo para visitar a Bósnia (salvo para estadias superiores a 90 dias). Eventualmente pode ser exigida prova de meios de subsistência durante a viagem, e comprovante de hospedagem e etc.
Não consta como requisito de imigração a contratação de seguro viagem, mas como o custo de qualquer tratamento no exterior pode custar mais que a própria viagem em si e viajar tranquilo não tem preço, recomendo e muito a contratação de um seguro viagem. Confira aqui os benefícios da Real Seguro Viagem, parceira do blog, ou clique no banner ao lado.
E já que o assunto é passaporte, a gente espera nunca precisar, mas é sempre bom ter anotado. O consulado brasileiro fica na capital Sarajevo: Grbavicka 4 – 2º andar – de segunda a sexta, de 9h00 às 17h00 – telefone: (+387) (0) 33 921 802 / 803 / 810 e Plantão Consular: (+387) (0) 63 697 737.
Como chegar? Não espere encontrar voos diretos do Brasil para a Bósnia, a melhor opção é conhecer o país a partir de um dos países vizinhos, como por exemplo a Croácia, afinal são apenas 147km / 2h15 de estrada de Dubrovnik até Mostar.
Li muitos relatos de gente que reclama do controle de fronteira local porque dizem que é demorado, especialmente durante a alta temporada por conta da quantidade de turistas e poucos agentes para atender.
Embora sim seja verdade que a infraestrutura do lado bósnio seja muito mais simples, para não dizer precária (o atendimento era em um container!), não tivemos problema algum durante a travessia.
Some ainda o fato de que se você sai de Dubrovnik que é o que a maioria faz, você precisa sair de lá, cruzar a fronteira para a Bósnia por Neum, voltar para a Croácia, e voltar de novo para a Bósnia até checar em Mostar, enfim, uma zona e com 3 passagens pela fronteira. Não faça isso! Vá por Trebinje (Bósnia) que embora pareça mais longe (uns 10 km a mais), a fronteira é mais tranquila e você atravessa só uma vez.
A Bósnia está num fuso horário de 4 horas a mais que Brasília.
Como o custo de vida local é bem menor que outros países europeus, e inclusive se comprado à Croácia ou Eslovênia, a Bósnia tem um custo bem atraente para os viajantes brasileiros. Dá para divertir-se muito sem gastar uma fortuna.
A moeda local é o marco conversível (BAM ou KM). Sim, é uma variável que surgiu a partir do antigo marco alemão, tendo inclusive uma paridade com ele quando criado. Hoje o seu valor cambial é o seguinte:
KM1 = R$ 2,31 ou R$ 1 = KM0,43
KM1 = € 0,51 ou € 1 = KM1,95
Mas quem for passar apenas um dia ou horas talvez nem precise fazer o câmbio, pois é comum que os estabelecimentos comerciais aceitem as kunas croatas e euros – mas normalmente o troco vem em marcos conversíveis.
Além dos onipresentes ATM´s onde é possível sacar marcos conversíveis direto de sua conta corrente (vide post sobre cartões de débito no exterior), existem sempre as casas de câmbio. Os ATM’s também podem cobrar uma pequena taxa de saque além daquela eventualmente cobrada pelo seu banco, ok?
Eu sempre adorei postos de informações turísticas, tanto que sempre forneço os dados de contato e sugiro a vocês uma passada por eles.
Na internet vocês encontram o excelente portal da Bósnia Herzegovina e o portal de Mostar, que tem um posto na Rade Bitange 5.
De posse das informações e dicas gerais, vamos às atrações de Mostar, o principal destino turístico da Bósnia.
Mostar foi uma das cidades da Bósnia mais afetadas pela guerra dos Bálcãs. Como se não bastasse a luta contra os sérvios, quando este conflito terminou, começou uma guerra entre croatas e bósnios que simplesmente destruiu todas as construções em uma das margens do rio Neretva.
Ainda hoje é possível ver muitos prédios em ruínas ou com marcas de balas. Dizem também que nos cemitérios da cidade é enorme a quantidade de sepulturas de pessoas falecidas no começo da década de 90.
Para quem quiser ver de perto os prédios destruídos pela guerra, pode procurar pelo Hotel Neretva do qual só sobrou a fachada e ao Banco de Ljubljana (rua Kralja Zvonimira). Fora isto ainda tem a Spanski Trg que foi um forte campo de batalha na época.
Mas aos poucos, a cidade vai se reconstruindo, e hoje, razoavelmente recuperada das marcas da guerra, mais parece ter saído diretamente de um conto de fadas. Não é à toa que esta cidade com pouco mais de 111 mil habitantes é uma, senão a principal cidade turística da Bósnia.
O centro turístico de Mostar (Stara čaršija) é bem compacto e em poucas horas dá para conhecer tudo. Então, curta com calma e aproveite um tempo livre para sentar-se em algum café ou restaurante para apreciar a vista.
Como toda a região é exclusiva para pedestres, basta você escolher um lugar nos arredores do centro para estacionar o carro, preferencialmente um estacionamento pago porque as ruas têm parquímetros com tempo reduzido e as vagas são raras.
O ponto turístico mais importante e bonito da cidade é a Old Bridge (Stari Most), uma ponte que foi construída no século XVI pelos otomanos que entre 1520 e 1526 resolveram fortificar a cidade inteira. Aliás ela foi construída a mando do Sultão Suleyman, aquele mesmo que em Istambul ergueu belíssimas mesquitas.
A Old Bridge (Stari Most) é tão importante para os bósnios, que durante a guerra, os croatas resolveram bombardea-la até a ruína justamente como uma forma de atingir a moral da população local, já que estrategicamente ela nem é tão importante nos dias de hoje.
Contando com financiamento de outras nações, os bósnios fizeram um enorme trabalho de restauro que durou de 1999 a 2004.
Ela é praticamente sinônimo de Bósnia e pode ser vista em praticamente todo material publicitário do destino. Aliás, até o nome da cidade está ligado à ponte: os guardas que nos termpos medievais protegiam a ponte sobre o rio Neretva eram chamados de mostari.
A ponte tem 28 metros de comprimento e 20m de altura.
Se você avistar algum maluco em pé no peitoril, não pense que ele está tentando suicídio não! Faz parte de uma tradição local. Os garotos ficam pedindo dinheiro aos turistas e quando acham que já têm bastante, eles simplesmente pulam de lá nas águas azul-esverdeadas do Neretva. Eu hein! Todo ano rola até um campeonato de mergulho lá!
Um lugar interessantissomo é o Old Bazaar (Kujundziluk), que fica na rua de acesso à Old Bridge (Stari Most) e tem várias lojinhas que vendem artesanato local com um preço excelente.
O Old Bazaar aliás lembrou muito, guardadas as devidas proporções, os bazares de Istambul. Ali vocês encontram muitos tapetes, artigos de couro, lanternas e itens feitos de bronze com bons preços.
Imperdível!
Seguindo pela rua do mercado, chega-se à principal mesquita da cidade, a Koskin-Mehmed Pasha’s Mosque que foi construída em 1617 e está aberta aos turistas. A entrada custa 4KM e é preciso cobrir as penas e cabelos (mulheres), mas se não tiver uma pashimina, eles emprestam no local.
Se estiver disposição para subir escadas, vale subir o minarete da mesquita. A vista de lá é fantástica.
Outras mesquitas interessantes são a Cejvan Cehaj Mosque que, construída em 1552, é a mesquita mais velha de Mostar; e a Mesquita Karadozbeg que data de 1557.
A cidade tem algumas igrejas bem interessantes, como por exemplo a Igreja Ortodoxa Sévia, construída em 1834 em plena dominação otomana.
Embora seja menos conhecida que a Old Bridge, a Crooked Bridge (Kriva Cuprija) que, mais parece uma miniatura da famosa ponte de Mostar, tem em seus arredores um charme especial com muitas construções de pedra.
Alguma hora do seu passeio, aproveite para sentar em um dos muitos restaurantes e comer um Cevapi (tem um acento agudo no C), que é uma espécie de kafta com cebola dentro de um pão sírio. Delícia 😋
Então anote aí: se quiser conhecer um local super diferente, vá à Bósnia-Herzegovina!!!
Desde a sua inauguração, ainda com o antigo nome de Walt Disney Studio Park, o…
Você já imaginou ter em mãos uma ferramenta que literalmente te dá todos os voos…
Ao norte da ilha de Palawan, onde fica El Nido, situa-se um outro grupo de…
Porque não aproveitar uma viagem à Paris para curtir o Disneyland Park? Se não bastasse…
Viajando para Paris com crianças? Então você precisa colocar no seu roteiro de atrações da…
Pensa em um paraíso literalmente cercado de água por todos os lados? Assim é El Nido.…
This website uses cookies.