Se tem uma cidade que não é fácil para o turista é o Cairo. Trânsito, poluição, transporte público deficitário são só alguns pontos que fazem com que ela mereça um post do tipo “guia de sobrevivência” do turista. Nem mesmo escolher um hotel é algo muito simples. Vamos então tentar destrinchar algumas das principais dúvidas de quem está montando um roteiro de viagem pela capital do Egito.
Fundada em 969, a capital do Egito é o lar de nada menos que 19 milhões pessoas, considerando a sua região metropolitana e cidades satélites – no Cairo mesmo são umas 9 milhões. Isso faz dela a 13ª mais populosa cidade do mundo e a maior da África. Só para dar uma noção, a grande São Paulo tem 21 milhões de habitantes.
É tanta gente que alguns moram em cima de cemitério (a tal Cidade dos Mortos). Dizem que entre 10 e 100mil moram lá.
Isso explica a sensação de caos que se tem ao conhecer a cidade. É uma mistura de sons de tudo quanto é tipo, dos deliciosos chamados para orações nos minaretes das mequitas às irritantes buzinas que parecem ter travado há uma verdadeira sinfonia pela cidade.
Não é um lugar onde você se sente sozinho, até porque sempre haverá alguém tentando te vender algo. 😊
Cairo é intensa!
Por mais que as pirâmides estejam na região metropolitana do Cairo, mais precisamente em Gizé que é uma cidade satélite, a cidade não data da época dos faraós. Ela é muito depois disso, praticamente 1.000 anos depois de Cristo, apresar de que a região já era habitada pelos árabes que conquistaram a região desde 642.
Tanto que na época das famosas construções e da civilização egípcia, a capital era Memphis, que fica uns 20km ao sul das pirâmides.
Seu nome vem do fato de que ela começou a ser construída em uma época em que Marte estava em ascensão. E como o planeta vermelho chama Al Qahir em árabe, o nome no ocidente ficou Cairo.
O incrível é que construções desta época, como a Mesquita Al Azhar e os portões de Bab An Nasr, Bab Al Futuh e Bab Zuweila ainda estão lá!
Além daquelas dicas gerais para o Egito, no caso do Cairo vale citar algumas a mais para que você curta a cidade ao máximo e possa otimizar seu tempo lá.
A quantidade de dias para conhecer as principais atrações do Cairo vai depender muito do seu ritmo de viagem e de quanto organizado você é.
Em poucos lugares vi uma necessidade tão grande em ter que me organizar para otimizar o tempo. Penso que quem vai à cidade no esquema “deixa a vida me levar”, sem planejamento ou vai precisar de muito tempo disponível ou irá deixar de lado muitas atrações.
Um dos maiores desafios para quem quer conhecer a cidade do Cairo é o fato de que as atrações estão espalhadas por uma área relativamente grande e o trânsito não ajuda nada. Nossa, parece São Paulo!!!
Neste contexto, a palavra de ordem é planejamento.
Tente agrupar as atrações mais próximas e conheça tudo o que puder nos arredores antes de seguir à diante para outro bairro, por exemplo. Eu gosto muito de utilizar para tanto o Google Maps e o MAPS ME. É só marcar as atrações no app e sair para explorar a cidade.
Ao fazer o seu planejamento, não deixe de considerar o fato de que muitas atrações demandam mais tempo para conhecer. É o caso das pirâmides e o Museu Egípcio são atrações complexas que demandam tempo e pelas quais você não irá querer passar voando.
Você gasta fácil meio período em cada uma e nem percebe o tempo passar.
Se você estiver hospedado no centro da cidade, considere que mesmo estando a apenas 10km, você gastará um tempo precioso no deslocamento por conta do infernal trânsito local sobre o qual comento logo mais.
Mas e ai? Quanto tempo? Falando por mim, ficamos 3 dias inteiros e foi intenso. Penso que este seja o mínimo para conhecer o essencial: Pirâmides, Museu Egípcio, as principais mesquitas, os souks mais famosos, e mais algumas atrações menores.
A porta de entrada para a maioria dos turistas é o Aeroporto Internacional do Cairo, já que os demais aeroportos recebem poucos voos internacionais. Trata-se de um aeroporto bastante movimentado, o segundo mais da África.
Com três terminais operando, o aeroporto não é lá aquelas coisas em termos de infraestrutura. Mas você encontra o básico: restaurantes e lanchonetes, e algumas lojas.
O terminal 1 atende a maioria das empresas aéreas internacionais; o 3 é praticamente exclusivo da Egypt Air (eventualmente outras da Star Alliance) e faz voos tanto domésticos quanto internacionais; e por fim o terminal 2 que estava em reforma opera parcialmente algumas empresas internacionais. Tudo isso é interligado por ônibus que opera a cada 30 minutos.
Chegando ao Egito, a nossa primeira preocupação foi como ir do aeroporto ao hotel (e depois o contrário). Neste aspecto tenho uma boa e uma má notícia para te dar.
A boa é que ele fica a apenas 20km do centro do Cairo. A má é que o sistema de transporte interligando ele à cidade é bem precário. Infelizmente não espere encontrar metrô ligando a cidade ao aeroporto pois a linha 3-verde que fará isso em um futuro ainda não chegou à região – já está operando no restante da cidade, mas sem previsão de chegar ao aeroporto.
Já vimos esta cena em outros destinos, mas alguns podem se assustar: chegando ao hall de desembarque, em segundos você estará cercado de taxistas querendo oferecer seus serviços. Alguns podem realmente ser táxis oficiais, outros, nada mais são do que táxis irregulares.
Preços? Espere não menos do que LE120, o que hoje daria uns R$ 26, o que não é caro. Ruim mesmo é a abordagem e eventual fato de que no final da corrida ele provavelmente irá de cobrar mais do que o combinado inicial.
Para evitar isso, optamos por contratar um transfer com a Viator, ao menos para a chegada. Sugiro que você faça isso especialmente porque você ainda estará meio deslocado e menos disposto a perder tempo negociando com aquele monte de taxista ao redor. Salvo engano gastamos uns US$20, ou seja, muito mais do que um táxi, mas sem nenhum desconforto. Às vezes é preciso!
Mas e ônibus? Planejando a viagem, resolvi dar uma olhada como seria o trajeto entre o Aeroporto e as Pirâmides. Quase que caí para trás ao ver que de carro, levaria praticamente 1 hora de viagem e utilizando o transporte público, mais especificamente ônibus, precisaria de 3h30 para o mesmo itinerário. Preciso comentar?
E para visitar as atrações da cidade, como se locomover?
Como dá para ver do mapa acima, as atrações estão bem espalhadas pela cidade, o que demanda um bom planejamento para que você explore todas as atrações de uma região antes de seguir à diante, salvando tempo e dinheiro nos deslocamentos.
Dentro de um determinado bairro ou entre atrações próximas, até dá para caminhar, já que a cidade é plana e no caminho você encontrará muita coisa para ver. Mas sugiro fazer isso apenas para curtas distâncias, já que o calor e a poluição local (veículos a diesel; fábricas de cimento; tempestades de areia; e clima seco fazem dela uma das mais poluídas do mundo) são um empecilho a quem gosta de caminhar longas distâncias.
Eu sou super fã de usar o transporte público, mas infelizmente no Cairo isso é muito hardcore talvez até para os viajantes mais experimentados, e notadamente para as mulheres.
Os ônibus são complicados demais para os turistas. As linhas estão escritas apenas em árabe, são lotados e você continuará preso no caótico trânsito local. Esqueça!
Sobra o metrô local e taxi.
Antes de falar das questões práticas sobre o metrô, tenha em mente que o metrô é praticamente utilizado exclusivamente pelos locais. Dificilmente você irá ver outro turista por ali. Então, esteja pronto para ser o centro das atenções. Dito isso, já é meio óbvio que você deve se vestir de forma discreta, especialmente as mulheres.
O metrô tem hoje 3 linhas: azul-1 (Helwan – El Marg); vermelha-2 (Shobra El Kheima – El Mounib) e a verde-3 (Attaba – Al Ahram), que como disse está em ampliação. Não deixe de olhar o mapa atualizado das linhas.
Não vou falar que o metrô do Cairo é uma maravilha porque de fato não é. As informações são super desencontratadas e o site do metrô do Cairo serve de praticamente nada. Merecia o prêmio de pior do mundo!
O que aprendi sobre o sistema foi fuçando na internet e olhando lá.
Coisas simples como o preço das passagens foi super complicado encontrar. Por mais que não exista um lugar onde você possa consultar o valor atualizado, não existe motivo para se preocupar, pois eu te garanto que será muito barato.
Até novembro de 2018, o preço das passagens era o mesmo independentemente de quanto você andou, agora não. As 9 primeiras estações percorridas custam LE 3 (R$ 0,67) e adicionais LE 2 (R$ 0,45) para as 7 próximas estações. No máximo você vai pagar LE 7 (R$ 1,58) para percorrer 16 estações. Viram como é barato???
Passe o bilhete pela catraca e retire do outro lado. Você vai precisar dele para sair da estação.
Mas nem tudo são flores. Comprar os bilhetes é uma missão. Não existem máquinas, eles devem ser comprados diretamente no balcão e as filas são enormes, então vale comprar mais de um bilhete para não ter que pegar a fila toda hora. Ah, troco também é um problema, já que notas altas dificilmente são aceitas.
Indo para os vagões, os do meio são reservados exclusivamente para mulheres. Elas até podem viajar em outros, mas homens, mesmo com família não podem se misturar no vagão delas. Porém, olhando na estação, não vi uma mulher sequer.
Outro detalhe importante é que na entrada das estações há revista de malas com raio-x e detector de metais, o que pode atrasar um pouco. Tenha paciência.
Ele é o melhor (senão único) sistema utilizado pela população local, portanto é super lotado. Se puder, evite os horários de pico: 7h00 às 9h00 e 15h00 às 18h00.
Ah, já ia me esquecendo do horário de funcionamento: das 5h45 às 0h30 todos os dias.
Uma opção que funciona razoavelmente bem, excetuada a questão do transito e o trato que reporto neste post sobre os taxistas do Egito, os táxis são uma opção razoável de transporte (com as ressalvas do post indicado, ok?).
Tem UBER no Cairo? Sim, mas como não usei, não vou opinar.
Como o metrô não atende todos os lugares e o trânsito pode fazer com que você passe horas parado dentro de um táxi, uma ideia que você pode usar é fazer um mix dos dois. Pega-se o metrô até a estação mais próxima e dali segue-se de táxi até o destino.
Vamos falar de algo que deveria ser simples mas não é. Atravessar a rua no Egito. Especialmente no Cairo, a simples tarefa de atravessar a rua mais parece aquele jogo da galinha que precisa cruzar uma estrada.
Me lembrou muito o Vietnã, com a diferença que no país do sudeste asiático as motos andavam em baixa velocidade. No Egito, digamos que é o jogo muda para o modo hardcore survivor!
Na praça Tahir, um dos lugares mais difíceis de atravessar, uma dica que dou é você usar a passagem que dá acesso ao metrô. Você passar pela parte livre da estação.
O trânsito raramente fecha e a maioria dos cruzamentos nem tem semáforo. A solução é apelar para Alá e se jogar. Nunca volte atrás, este é um movimento que ninguém espera. Se tiver que tomar uma decisão, que seja seguir a diante. Uma tática que muitos turistas usam, eu mesmo usei muito é colar em um local e ir junto dele. Presumidamente ele sabe mais das coisas que você. 😊
Com atrações bem espalhadas pela cidade, no Cairo não dá para de dizer que o bairro X ou Y seja de fato o melhor para se hospedar. Eu mesmo havia ficado em dúvida entre me hospedar perto das Pirâmides (que como disse fica em Gizé – cidade vizinha) ou escolher um hotel no Cairo mesmo.
Optando por um hotel no Cairo, sugiro apenas que você tente ficar nos arredores do Nilo, já que a facilidade de acesso nesta área parece ser maior. Considere também como essencial estar perto de alguma estação do metrô para poder fazer uso dele em ao menos algumas oportunidades.
Ao final, a nossa escolha para esta viagem foi o hotel Hotel Novotel Cairo El Borg que atendeu super bem às nossas expectativas. A experiência que detalharei em breve aqui no site.
No próximo post, vamos explorar as atrações desta cidade incrível.
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