Suécia

Suécia: a nossa introdução à Escandinávia

Estocolmo, parece conto de fadas.

Juntamente com Islândia, Noruega, Dinamarca e Finlândia, a Suécia faz parte dos chamados países nórdicos ou Escandinávia. Sempre tive muita vontade de conhecer estes lados do mundo, tanto pela cultura absolutamente diferente quanto pelo altíssimo grau de desenvolvimento que os países da região apresentam.

A nossa primeira viagem à região passou pela Suécia, Noruega e Dinamarca em um tour de 10 dias.

Quando comparado com o restante da Europa, os países da Escandinávia têm algumas diferenças bem marcantes. Diferenças estas que vão além do biótipo alta estatura, pele e olhos claros da maioria da população. A diferença mais marcante é cultural.

Se de um lado a história da maior parte da Europa, pelo menos a ocidental, é muito conhecida de todos nós, já que em muitos casos se funde com a brasileira por meio da colonização nos seus vários estágios; a dos países escandinavos nos parece algo mais distante, desconhecido e até mesmo exótico (acho que isto é o que mais me atrai).

Pensa em um lugar onde tudo funciona.

O nome oficial do país, Sverige deriva do nome do rei de Svear, o principal povoado nos idos de 800. Apesar de povoada desde a idade da pedra, as suas origens como nação estão na idade média.

Após a unificação do Reino Sueco, sucessivas conquistas territoriais ocorreram, abrangendo a área que hoje corresponde à Finlândia e parte da Noruega, territórios estes que foram perdidos entre os séculos XVIII e XIX. Inclusive entre 1814 e 1905 a Suécia e a Noruega estiveram unificadas em um único reino.

Não dá para não falar da história da Suécia e dos demais países da Escandinávia sem mencionar os vikings. Mas quem foram os vikings afinal? Os vikings foram navegadores, alguns comerciantes, outros piratas mesmo, que colonizaram e invadiram, respectivamente, uma boa parte da Europa entre os séculos VIII e XI. Mas engana-se quem pensa que os vikings eram todos guerreiros ou bárbaros, pois uma parcela deles era composta de mercadores pacíficos (tanto que uma das origens defendidas para a palavra viking é vik, que significa mercador).

Esqueça tudo o que você acha que sabe sobre vikings.

Vestígios da ocupação viking podem ser notados em toda a Escandinávia e até mesmo no Reino Unido e na antiga Constantinopla (Istambul). Existem historiadores que defendem inclusive que eles teriam chegado à América do Norte usando seus Dracar ou Drakkar (navio-dragão), aquelas típicas embarcações vikings com uma cabeça de dragão na proa e movido por velas e remos.

Embora como já dito, nem todos os vikings fossem pilhadores bárbaros, dizem que a “moderação” dos hábitos vikings veio com a introdução do cristianismo na Escandinávia, por volta do século XI.

Um dos traços marcantes da cultura viking é a escrita na forma de runas, uma espécie de alfabeto com letras características. Com vestígios que datam do ano de 150, era o tipo de escrita mais comum no norte da Europa até a sua substituição pelo alfabeto latino nos idos do século XI na Escandinávia.

A sociedade viking era composta pelo rei, pelos jarls (ricos proprietários de terras); karls (pessoas livre, mas sem posses), e thralls (escravos). Apesar de ser uma sociedade bárbara, onde o homem dominava (podia ter concubinas e matar as mulheres adúlteras), as mulheres gozavam da prerrogativa do divórcio em algumas situações.

Os povos vikings faziam uso da mitologia para explicar alguns fatos naturais como o nascimento do sol e da lua, e até mesmo o surgimento de um arco-íris. Eles também cultuavam deuses como Odin (o principal deus, cuja imagem está ligada à sabedoria, guerra e morte); Thor (aquele do martelo, representa a força da natureza); e Njord (o deus dos mares e da fertilidade). Os vikings acreditavam que o mundo estaria dividido em submundos (9 ao todo).

Ao morrer os vikings ou eram cremados, ou então enterrados em grandes câmaras, muitas vezes com seus serviçais ou esposas também (e vivos!!!) – era comum também serem enterrados com animais nestas mesmas condições.

Durante toda a sua história (Museu do Vasa).
E também nos dias de hoje, os suecos apreciam e muito a vida no mar.

Tentando visualizar um viking, aposto que você como eu, teve na mente a imagem daquele guerreiro com um chapéu com chifres. Certo? Mas esta ideia está absolutamente equivocada. Apesar do imaginário geral, eles não usavam este tipo de chapéu com chifres. Isto foi uma criação dos séculos seguintes para dar uma visão mais bárbara deste povo. Quem disse que pós-verdade é algo novo???

Com uma população de pouco mais de 9 milhões de habitantes, é um dos países com a menor densidade populacional do mundo, com apenas de 21 habitantes por quilômetro quadrado, e a maioria habitando as cidades do sul. O principal motivo desta concentração enorme de gente no sul decorre do fato de que o norte do país está praticamente dentro do chamado círculo polar ártico.

Pois é, a Suécia fica tão ao norte que em Estocolmo que durante o verão anoitece de verdade por volta de umas 22/23h00. Eu particularmente adoro isto, pois a sensação de que o dia rende é uma beleza. Dizem que mais ainda ao norte, no ápice do verão nem chega a escurecer. Ok, ai já acho que é demais. Em compensação no inverno as horas de sol são mínimas.

Quase 20hs e uma claridade de 15hs em Estocolmo.

No verão, tem gente que reclama que é ruim para dormir com tanta claridade. Tanto que um dos itens que todo mundo recomenda levar na mala para uma viagem de verão na Suécia é um tapa olhos. Se bem que vi lá alguns pijamas (bizarros) com gorros que cobrem até a cabeça.

Religiosamente, a maioria da população (73%) é luterana e disfruta de uma qualidade de vida invejável, sendo um dos países mais bem posicionados no índice de desenvolvimento humano IDH (0,907 na 14ª posição em 2015).

E Salve Jorge! Sim, uma linda estátua de São Jorge na igreja Storkyrkan.

O povo no geral me pareceu extremamente ordeiro, mas um tanto quanto reservado.

Ah, um fato que chamou a atenção é que apesar do rigor das leis e principalmente da sua aplicação, na Suécia é permitido falar ao celular e dirigir ao mesmo tempo. Acredite se quiser… Agora, sejamos francos, se você se envolver em um acidente as consequências serão duríssimas. Em compensação, o limite de velocidade na maioria das vias é de 50km/h. Dizem que até o ano de 1967, os suecos utilizavam a mão de direção inglesa, ou seja, oposta à nossa. A partir de tal ano, eles trocaram – imagina a confusão!!!

Outra peculiaridade é que em alguns lugares públicos, os banheiros são unisex, isto é, servem para homens e mulheres – tanto que o banheiro masculino do aeroporto era limpo por senhoras enquanto frequentado pelos homens. Isto deriva da ideia sueca de igualdade absoluta. Imagine os homens na fila aguardando para usar um banheiro “feminino”, ou as mulheres reclamando do banheiro masculino!!!

Aliás se topar com uma casinha assim pelas ruas, não é guarita tampouco cabine telefônica…. é um banheiro!
Esta sim, super vintage e linda, é uma cabine telefônica.

Assim como os japoneses, os suecos têm o hábito de tirar o sapato e andar descalços ou de chinelo em casa. Então se visitar uma casa sueca já sabe…

A forma de governo na Suécia a monarquia parlamentarista, onde o rei (Carlos XVI Gustavo) é o chefe de Estado apenas para cerimoniais.

O Palácio Real.

A economia da Suécia está pautada na exportação de itens de alto valor agregado, como telefonia, automobilística e farmacêutica; o que explica o potencial econômico sueco.

Um fator relevante para tal desenvolvimento econômico é o investimento maciço dos suecos em pesquisa e desenvolvimento industrial – eles são líderes em alguns setores e um dos top 10 no depósito de patentes – para ter uma ideia, os suecos inventaram a escala de graus Celsius, deram uma utilidade para o zíper, inventaram a embalagem de leite em caixinha. E quem nunca ouviu falar destas empresas suecas: TetraPak, Volvo, Scania, Ericsson, Electrolux, IKEA, Saab?

Alguns suecos famosos: Alfred Nobel (instituidor do Prêmio Nobel e inventor de algo realmente explosivo, a dinamite); o cineasta Ingmar Bergman e as atrizes Greta Garbo (que está enterrada no cemitério de Skogskyrkogården) e Ingrid Bergman; e a banda ABBA que fez sucesso nos anos 70 e ainda é meio que um símbolo do país para os estrangeiros.

E por falar em prêmio Nobel, eis a curiosa história de sua criação. Após criar a dinamite, Alfred Nobel ficou chateado ao ver seu nome associado à morte de tantas pessoas por conta do mau uso do seu invento. Desejando mudar a lembrança que as pessoas tivessem dele no futuro, ele deixou no seu testamento a vontade de que a sua herança de 32 milhões de coroas fosse usada para criar uma fundação à qual caberia premiar aqueles que tivessem em um determinado ano um destaque especial em suas áreas de atuação, mas sempre com foco no bem-estar.

A Fundação Nobel foi criada em junho de 1900 e controla toda a eleição. Atualmente os prêmios, salvo o da Paz – que é entregue em Oslo, tem a sua entrega na Suécia, feita pelo próprio Rei no Stockholm Konserthuset e na Prefeitura acontece o banquete. Acho que funcionou, pois pouca gente associa o seu nome ao explosivo.

Prefeitura de Estocolmo, onde é realizado o banquete de celebração do Prêmio Nobel.

Curiosidade: Estocolmo já sediou “dois” Jogos Olímpicos os de 1912, e parte dos de 1956. Parte? Sim, como Sydney teve uma quarentena sanitária que inviabilizava a ida dos cavalos que participariam da prova de hipismo, o COI resolver fazer estas provas em Estocolmo, ali “do lado”.

E mais uma para fechar: a bandeira da Suécia no seu formato segue o padrão das bandeiras dos demais países escandinavos, a chamada Cruz nórdica que representa o cristianismo. Já as cores são as cores do exército sueco. O fato curioso fica por conta de uma lenda segundo a qual o Boca Juniors, que hoje usa as mesmas cores e por não saber até então que cores usar, resolveu que a cor seria escolhida segundo a bandeira do primeiro navio que aportasse no porto de Buenos Aires – que pena que não foi um navio brazuca… Rssss.

Assim como de outros países da região a bandeira tem a cruz nórdica.

Como sempre, vamos à uma lista de dicas práticas para você programar a sua viagem para a Suécia (aquele como, quanto, quando, e etc.):

Como chegar? Infelizmente não existem voos diretos do Brasil para a Suécia, então a melhor forma de chegar é por meio de uma conexão em alguma outra capital europeia que seja servida por voos com rota para o Brasil.

A SAS, empresa sueca, norueguesa e dinamarquesa é a principal da região.
E o excelente aeroporto de Estocolmo é atendido por voos que o ligam às principais cidades da Europa por meio de várias empresas.

Quanto tempo? Além de depender é claro do seu ritmo de viagem, vai muito do que você pretende ver. Nós tínhamos apenas 3 dias, pois vínhamos de um itinerário mais longo que passou por outros países. Estes dias foram suficientes para conhecer as principais atrações da capital Estocolmo, mas se quiséssemos conhecer outras cidades importantes como Gotemburgo e Malmö, ou ainda, fazer um bate-e-volta até Uppsala, precisaríamos de 1 semana ou mais.

Quando ir? A resposta depende muito da sua tolerância a frio e em que clima prefere viajar. Os verões são tão amenos que para nós que somos de sampa praticamente sentimos no verão sueco a mesma sensação térmica que teríamos em um outono paulistano – ou seja, o verão lá não é nada quente. Juro que fiquei com medo só de imaginar como seria no inverno. Ok, deve ser
lindo ver tudo coberto de neve, mas a temperatura é de trincar:

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Máx. -1°C -1°C 3°C 8°C 16°C 21°C 22°C 20°C 15°C 9°C 4°C 1°C
Mín. -5°C -6°C -3°C 1°C 6°C 11°C 13°C 12°C 9°C 5°C 1°C -3°C
Méd. -3°C -3°C 0°C 5°C 11°C 16°C 18°C 17°C 12°C 8°C 3°C -1°C
Chuva 38 mm 28 mm 25 mm 30 mm 30 mm 46 mm 71 mm 66 mm 56 mm 51 mm 53 mm 46 mm

O frio por estas bandas parece ser tão intenso que os suecos, como nos demais países escandinavos (e alguns outros europeus), celebram o tal Midsummer (ou solstício de verão). É uma espécie de festa pela colheita e fertilidade, que marca o começo do verão (ufa!). Eles saem às ruas, bebem muito e confraternizam com danças típicas e barracas de comidas regionais. A festa começa praticamente na sexta-feira e termina no domingo, e é marcada pelo dia mais longo do ano, leia-se com mais horas de sol… Nada mal para tirar o bolor do inverno rigoroso.

Fomos no verão, mas nem por isso no calor. Praticamente o dia inteiro de blusa.

Assim como outros países europeus, a Suécia não exige visto de turismo para viajantes brasileiros, bastando um passaporte válido, e a comprovação de um seguro viagem com cobertura para o chamado Espaço Schengen (Europa em geral). Se você não tem, adquira o seu aqui com a Real Seguro Viagem ou no banner ao lado.

A gente espera nunca precisar, mas em uma emergência, vale anotar o endereço da embaixada Brasil: Odengatan 3, SE-114 24 Stockholm. E-mail: stockholm@brazilianembassy.se / www.brazilianembassy.se – Tel: Chancelaria: +46 8 545 163 00 – Fax: +46 8 545 163 14 – Horário de atendimento ao público: 09h00 – 17h00.

Algo que realmente não tem como evitar é o alto custo da viagem. Não só a Suécia, mas toda a Escandinávia é uma das viagens mais caras que se pode fazer. Se você é como a gente que viaja low cost, prepare-se: por mais que você tenta economizar, acaba gastando mais do que outros destinos europeus, por exemplo.

Hospedagem e alimentação têm um custo altíssimo. Lembro bem um dia que em um Burger King deixamos nada menos que o equivalente a R$ 100 para dois lanches, batata frita e refrigerantes. Ok, pode parecer pouco, mas estamos falando de um lanche que nos EUA custaria alguns poucos dólares. 

O sistema de transportes é excelente, mas caro para os nossos padrões.

Compras então nem se fala! É uma viagem para passear, e só! As atrações até que têm um preço até que razoável.

Mas como as pessoas vivem lá então? Ganhando bem! A Suécia pode ser considerada um dos países mais ricos do mundo, com um PIB de US$ 336 bilhões e uma renda per capita de US$ 34.735.

Já que estamos falando de dinheiro, a moeda local é a coroa sueca (SEK). Pois é, pensou que era euro, né??? Curiosidade: o fato dos suecos terem rejeitado a adesão ao euro, fez com que o Riksbank sueco (banco central) – fundado em 1668, passasse a ser o banco central mais antigo do mundo que ainda emite moeda.

SEK 1 = R$ 0,35 ou R$ 1 = SEK 2,80

SEK 1 = US$ 0,10 ou US$ 1 = SEK 9,19

100 SEK, uns R$ 35 na data deste post.

Evidentemente que cartões de crédito são aceitos na maioria dos estabelecimentos, mas se você quiser sacar coroas diretamente da sua conta corrente, sugiro utilizar o seu cartão de débito.

Como não fiz câmbio lá, não tenho como sugerir que moeda levar. Mas pela lógica, sugiro sempre levar uma moeda forte, como por exemplo euro ou dólar.

A Suécia é um destino super seguro.

Semelhantemente a outros destinos como Japão ou Suíça, a Suécia é um lugar absolutamente seguro. Claro que eventualmente pode haver um caso ou outro isolado de pequenos furtos. Para não dizer que é tudo perfeito, andando pelos arredores da estação de trem notei alguns caras tão bêbados que nem conseguiam ficar em pé. Mas bastou juntar uns 3 bebuns que a polícia já parou o carro e enquadrou todo mundo.

Apesar da língua oficial ser o sueco, outras 5 línguas são consideráveis no território: finlandês; meänkieli, sami, romani e iídiche.

Como se não bastasse abusar das consoantes, reparem nos acentos estranhos.
Mas é incrível que algumas (poucas) palavras são facilmente reconhecidas.

Como vocês verão no próximo post, só pelo nome das atrações turísticas cheias de consoantes e tremas colocados em letras pouco usuais, já dá para notar que como o idioma local é difícil. E embora sueco não seja para qualquer um, até que as palavras básicas são bem fáceis:

– Obrigado/a: Tack

– Entrada: Ingang (parece alemão!)

– Saída: Utgang

– Água: Vatten

– Mapa: Karta

– Ônibus: bussen

– Barco: baten

– Beer: öl

A Suécia está em um fuso horário 5 horas à frente de Brasília. E as tomadas são 220v e seguem o padrão europeu (2 pinos grossos).

No próximo post da série sobre a Escandinávia vamos conferir as principais atrações da capital Estocolmo.

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Diogo Avila

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