Egito

Egito: Enfim nos conhecemos!

Por mais que eu tente conter a ansiedade e a TPV, se você é como eu que ama história, não dá para você olhar uma passagem para o Egito nas suas mãos e não surtar.

Depois de sabe-se lá quantos voos (bem, na verdade sei sim: 180 segundo o Flight Radar), e mais de 8 anos desde os nossos planos originais, é chegada a hora de desembarcar em um lugar que posso dizer que sempre sonhei em conhecer: o Egito.

Povo doidão por conhecer o Egito.

O sentimento é tão antigo e arraigado que não consigo me lembrar desde quando sonho em conhecer o Egito e mais especificamente as suas famosas pirâmides.

Claro que sem querer acabei passando este gosto para o Cumbiquinho que sempre adorou o assunto ao ponto de querer saber os detalhes de como uma pessoa vira múmia, se a múmia tá viva, o que ela faz à noite… Ai céus!!!

Enfim, era chegada a hora de somar o meu sonho de criança, a curiosidade do pequeno e mais a estabilidade do Egito e embarcar nesta aventura.

O Egito é um destino que mexe com o nosso lado explorador e curioso. É um destino essencial para quem gosta de história e cultura. Não só pelas pirâmides que dispensam apresentações. Mas também por atrações como o Museu Egípcio no Cairo e o Vale dos Reis e os templos de Luxor – isto para não falar nos balneários de Hurghada e Sharm el-Sheikh.

Por tudo isso, confesso que desembarcamos no Egito com uma expectativa super alta, e mesmo diante daquele lance de expectativa versus realidade, voltei de lá cheio de histórias e uma certeza: por mais que as suas expectativas sejam altas, o Egito é tudo o que você imagina e muito mais em termos de atrações.

Para quem ama história, o Egito é apaixonante.

Vamos ter muito o que conversar nesta série de posts (já adianto, será grande!), mas já te adianto. As Pirâmides são mesmo incríveis em todos os seus aspectos. É enigmática a expressão da Esfinge. Cairo é caótica e interessante como dizem. As mesquitas são lindas. Luxor e seus templos são imperdíveis. O Vale dos Reis é um mar de tesouros a serem descobertos. E olha que tudo isso fui só uma viagem de uma semana.

Vamos então começar mais uma série sobre um destino de viagem? Mas não é um destino qualquer, sem medo de trocadilho infame, é um destino simplesmente FARAÔNICO😃!!!

História do Egito

Falar da história do Egito é falar essencialmente da história da humanidade. Poucas civilizações exerceram tamanho magnetismo quanto a que viveu no Egito Antigo – pensando aqui rápido, apenas romanos, maias, khmer e chineses chegam neste patamar.

Imaginem, o Egito foi a primeira civilização organizada como nação, com governo, hierarquia e etc.

Para quem como eu ama história, resumir em algumas poucas linhas algo tão grandioso assim é um sacrifício, literalmente. Mas vamos lá, até porque nos próximos posts teremos muito mais informação sobre história do Egito.

A civilização egípcia foi tão avançada para o seu tempo que enquanto os europeus estavam enrolados em peles de animais e praticamente vivendo em cavernas, os egípcios já tinham as pirâmides, uma escrita padronizada, sistemas de governo complexo e faziam cirurgias (até de cérebro, simples é verdade) para ficar em alguns poucos itens.

Em termos históricos, muito se fala a respeito do Egito Antigo do tempo dos faraós, mas muito pouco a respeito do que veio depois.

Bairro islâmico no Cairo, um dos lugares mais interessantes da cidade.

Com o declínio dos faraós, a região foi conquistada em 331 a.C. por Alexandre o Grande (dai vem o nome da famosa cidade egípcia às margens do Mediterrâneo), pelos os romanos em 30 a.C.; foi tomada pelos árabes nos anos 600, e depois pelos otomanos fazendo parte do império Otomano até 1919 (aliás deixou de fazer parte deste com o fim da Segunda Guerra Mundial).

Os egípcios

Com parte do seu território na África (maior porção) e na Ásia (mais precisamente na península do Sinai), o Egito é a casa de mais de 92 milhões de pessoas, fazendo dele a 15ª nação mais populosa do mundo.

Algo que você notará, especialmente nas ruas de grandes centros urbanos é que no Egito há bastante pobreza. O IDH deles é relativamente baixo, ocupando a 115ª posição. Apenas para dar uma ideia, o Brasil ocupa a 79ª colocação.

Há sim um enorme contraste entre a pobreza nas ruas e a riqueza histórica.

De um lado você tem uma pobreza enorme em certas áreas do Cairo, por exemplo.
E de outro lado uma riqueza cultural e histórica única (Templo de Luxor).

Riqueza esta que traz muitas divisas ao Egito. Sem grandes indústrias, a economia local é basicamente primária e depende muito do turismo. O salário médio é LE 4.000, o que dá uns R$ 900/mês.

Como são os egípcios? Generalizações são sempre complicadas, mas mesmo tentando abster-se delas, a gente sempre fica com uma imagem geral pelas experiências e interações que temos com as pessoas durante as viagens.

Uma primeira impressão que tivemos foi o fato de que embora eles aparentem, tanto física quanto culturalmente (religião e idioma) serem árabes como outros povos da região, eles nutrem um forte sentimento de orgulho sobre os feitos do passado. Há até mesmo uma relativa distinção em relação aos seus vizinhos com os quais os únicos laços de fato são a religião e o idioma.

A turma ai retratada na tumba no Vale dos Reis em nada se parece com os atuais egípcios.

Interessante notar que historicamente, nem se pode falar em egípcios como aqueles dos tempos das Pirâmides, já que embora aquele seja o período mais famoso e grandioso, eles foram invadidos pelos árabes vindos da Península Arábica a partir de 640 (sem contar as invasões romanas, gregas, persas e por ai vai), o que literalmente criou um povo tão miscigenado quanto nós brasileiros.

E para complicar ainda mais este caldo cultural, mais recentemente, em os séculos XIII e XVI (qualquer coisa comparada aos milênios antes de Cristo lá é recente!) foram dominados pelos turcos (Mamluks).

No geral, os egípcios são bem humorados e recebem super bem os turistas. Viajando com crianças ainda mais.

Cena de uma rua do Cairo.

É claro que algumas coisas podem ser meio chatas dependendo de como você encara. Algo que você encontrará muito no Egito são vendedores ambulantes tentando vender de tudo aos turistas. Se bobear eles tentam vender até areia do deserto!

Isso vem de algo cultural e gera situações aceitáveis e inaceitáveis, estas últimas, relatarei mais a diante ao falar dos taxistas e da doença da gorjeta.

Quanto aos vendedores, a todo momento você será abordado por eles. Não adianta se estressar. Eles são comerciantes por natureza e a situação da economia local, fruto das crises políticas recentes, empurrou um monte de gente para vender coisas na rua. Considere que para eles esta é a única opção de renda. Viu como fica mais fácil aceitar quando compreendemos o contexto?

Se não quiser comprar nada, simplesmente agradeça (em inglês e árabe, se possível), sorria e saia de cena.

Superadas estas questões, os egípcios são como já disse, muito simpáticos e bem humorados.

Etiqueta no Egito

Sob o ponto de vista de etiqueta, tenha em mente que embora o Egito receba uma grande quantidade de turistas, em termos de vestimentas e hábitos eles são mais restritos que outros destinos que visitamos, como por exemplo Turquia e Emirados Árabes Unidos.

Por isso, vista-se de forma mais discreta. E quando digo isso, vale para homens e mulheres.

Mulheres devem na medida do possível, evitar roupas demasiadamente curtas como tops e shorts, decotes muito grandes, e roupas justas. Isto ajudará a evitar não só olhares de reprovação como também assédio, como falarei num próximo post.

Evite demonstrações de afeto mais calorosas como abraços e beijos em público.

Se for visitar o país durante o Ramadã, simplesmente não coma ou beba em público. Acho que esta regra é a de fato complicada. Por mais que você não seja muçulmano, eles esperam que você respeite os demais não comendo ou bebendo diante deles. Alguém me explica como?

Considere que ao visitar mesquitas aquelas regrinhas básicas se aplicam: remova os sapatos; cubra os braços e pernas (homens: nada de bermuda nas mesquitas – aliás nestas horas é que uma daquelas calças que viram bermuda são a salvação); e mulheres são orientadas a cobrir os cabelos.

Lembre-se que ao visitar as mesquitas, algumas regras devem ser seguidas.

Por mais que você, como eu, adore o canto/chamado às orações (é lindo!), nem tente imitar pois eles podem entender como uma brincadeira de mal gosto com algo tão sagrado.

Um hábito que talvez chame a sua atenção, já que não é mais tão comum em outros destinos, é o quanto o cigarro está presente no dia-a-dia dos egípcios. O povo fuma muito! E por isso mesmo talvez você encontre dificuldade em encontrar um restaurante com área para não fumantes.

Mas neste quesito o mais complicado são os quartos de hotéis. Nem sempre existem quartos para não fumantes. Procurando hotéis no Booking.com, notei que uma das reclamações mais recorrentes é justamente o cheiro de cigarro nos quartos, inclusive em bons hotéis.

Assim como qualquer outro destino de viagem super interessante, você irá querer tirar várias fotos no Egito. Mas existem algumas regras que você precisa seguir.

Às vezes, até para uma foto de uma loja, é melhor pedir autorização. Nada que um sorriso não resolva.

Normalmente fotos dentro de tumbas são proibidas, exceto se expressamente dito que é permitido. Na dúvida, pergunte. Alguns lugares vendem por um preço bem simbólico, autorizações para fotos. Noutros os guardas fazem vista grossa se você pagar uma gorjeta. Não incentive este comportamento reprovável ☹️

Evite tirar fotos de pessoas, especialmente mulheres, sem a prévia autorização delas. Isso é uma regra que vale para qualquer lugar, mas no Egito, pela orientação muçulmana, acaba sendo mais sensível.

Se for tirar foto de uma loja ou de algum produto, sempre pergunte primeiro ao vendedor.

Mas talvez a regra mais importante sobre fotos seja evitar tirar fotos de coisas que podem ser consideradas instalações militares ou assemelhadas.

Religião

A maioria dos egípcios professam religião muçulmana ou islamismo.

Nesta viagem aproveitei para aprender um pouco mais sobre o islamismo e entender algumas coisas que até então não sabia direito. Finalmente consegui aprender a diferença entre sunitas (maioria lá) e xiitas. Quando Maomé faleceu em 632, ele não deixou instruções nem indicou alguém especificamente para seguir seu caminho. Foi então que esta divisão surgiu. Os xiitas são os alinhados aos familiares dele, e os sunitas uma vertente que equivale aos ortodoxos da igreja católica.

Mesquita de al-Azhar no Cairo.
Detalhes do teto da Mesquita de Muhammad Ali.
Alcorão

Também compreendi melhor o papel de Maomé. Na visão deles, Deus também é único e não precisa de intermediários (basta ver que não existe o equivalente a padre ou pastor nos lados do islã). Deus não teria filhos, como algumas outras religiões pensam. E figuras como Jesus, Abraão, Moisés, e inclusive Maomé não são seres divinos, eles simplesmente foram escolhidos por Deus para receber e repassar a sua palavra.

Interessante, né? Mais que isso, importante para desfigurar alguns preconceitos e respeitarmos ainda mais a religião alheia.

O legal é que apesar de 90% da população ser muçulmana , existe no Egito uma quantidade razoável de cristãos, chamados de coptas.

Sim, isso mesmo. Por mais que a nossa ideia geral seja de que povos de origem árabe sejam sempre muçulmanos, já vimos na Palestina alguns exemplos de árabes que seguem o cristianismo. No Egito, eles representam os outros 10% da população.

A origem dos coptas no Egito data de algo mais ou menos contemporâneo aos tempos bíblicos.

O interessante sobre o cristianismo no Egito é que embora muito minoritária a sua prática, foi um dos primeiros lugares a praticá-lo. Dizem que no ano 45, São Marcos, São Paulo e São Pedro já pregavam lá. Foi inclusive a religião predominante até a chegada dos muçulmanos lá pelos anos 600.

As práticas atuais como por exemplo incensos, surgiram no Egito neste período.

O incrível é que apesar de alguns pontos de radicalismo de vez em quando, a convivência é pacífica. Ficou até mesmo famosa a cena da praça Tahrir quando os coptas protegeram os muçulmanos durante suas orações e vice-versa.

Igreja de São Sérgio é uma das mais importantes porque ali acredita-se que teria sido o abrigo de Jesus e sua família durante a fuga para o Egito.

Mas voltando à maioria de orientação muçulmana. Embora já tenhamos falado de alguns destinos que seguem o islamismo vamos aproveitar para falar desta religião. Ela se funda em 5 pilares que devem ser seguidos por todos os muçulmanos: seu profeta é Maomé, o qual recebeu do anjo Gabriel as instruções vindas de Deus; seguir as instruções do Alcorão que foi escrito por Maomé; rezar 5 vezes ao dia; ajudar os necessitados; respeitar o Ramadã; se tiver dinheiro e condições de saúde, ir ao menos uma vez à cidade sagrada de Mecca (Arábia Saudita e berço de Maomé em 570).

Andando pelas ruas você irá notar uma profusão de mesquitas (uma mais bela que a outra) e 5 vezes ao dia escutará aquele belíssimo chamado para as preces (adhan que é feito pelo muazzin no topo das mesquitas – hoje por auto-falantes).

Aliás embora o chamado melódico seja muito maior, a parte que mais se repete e que é possível entender claramente diz Allahu Akbar (Deus é Maior). É lindo!

Política

Se tem um assunto hoje, e já faz um tempo, delicado no Egito é política. Desde a Primavera Árabe que começou lá em 2011, este assunto é meio que tabu e gera muita confusão no país. Portanto, evite conversar sobre isso ou emitir opiniões muito firmes a respeito. Mais ouça do que fale.

O sistema lá é o semi presidencialismo, mais ou menos como na França, onde você tem três figuras: o presidente que é o chefe de Estado e o primeiro-ministro e um gabinete que efetivamente governam. A diferença com a França do exemplo é que a orientação do governo é exclusivamente militar.

Interessante que, guardadas as devidas proporções, é possível olhar a arquitetura da zona mais central do Cairo e notar influências francesas.

Não vou aqui me estender no assunto porque este não é um site de política internacional. Mas apenas para você ter uma ideia geral da situação política do Egito nos últimos tempos, vale citar alguns fatos.

Talvez você já tenha ouvido o nome de Hosni Mubarak. Ele foi o presidente do Egito de 1981 até 2011 (sim, 30 anos!), ganhando eleições de candidato único. Ah, tá! Porém em 2005 ele enfrentou outros concorrentes e mesmo assim ganhou sob suspeitas dos observadores internacionais.

Inspirados por manifestações na vizinha Tunísia, e que mais tarde se espalhou chacoalhando todo o mundo árabe no começo de 2011 (a tal Primavera Árabe), a população tomou a Praça Tahrir e as ruas do Cairo para protestar contra o governo dele. Ao final de fevereiro, ele renunciou entregando o governo aos militares.

Praça Tahrir, o epicentro das manifestações no Egito.

As eleições vieram em 2012 e foram vencidas por uma linha mais radical que pretendia um maior fechamento do Egito em relação ao mundo. Isto gerou novas manifestações e em julho naquele mesmo ano o governo recém empossado já tinha ruído.

O país afundou em uma crise financeira e numa sequência de governos interinos até que em maio de 2014 novas eleições foram realizadas, agora em um ambiente mais tranquilo que espera-se seguir por muitos anos.

Idioma

O idioma oficial do Egito é o árabe. Se você pensou “xiii, danou-se não sei nada de árabe”, vai aqui uma boa notícia: por ter sido dominado pelos ingleses até 1922 e ter um laço bem estreito com muitas outras nações, seja pelo comércio seja pelo turismo, nas áreas mais turísticas, a grande maioria da população fala inglês.

Claro que não custa nada aprender um pouco de árabe para fazer uma graça e ser cordial com os egípcios:

Português Árabe
Sim naʿam
Não
Olá marhaban
Olá (Usually Islamic) ʾassalāmu ʿalaykum
Como está você? kayfa l-ḥāl
Bem vindo ʾahlan
Tchau maʿa s-salāma
Por favor min faḍlik
Obrigado šukran
Licença ʿafwan
Desculpe ʾāsif
Qual o seu nome? mā ʾismuk(a/i)?
Quanto custa? kam?
Eu não entendi lā ʾafham
Eu não falo árabe lā ʾatakallamu l-ʿarabiyyah
Sabia que árabe se escreve da direita para a esquerda?
Mas o essencial ao turista está em inglês também.
Assistir a TV é lost in translation total.

A saudação local mais usada é o as’salâmu a’alaykum (a paz esteja com você), a qual deve ser respondida com wa’alaykum as’salâm (a paz esteja contigo também). Não é fácil não, mas vale aprender.

Me esquece aqui por uns minutos…

Dadas as primeiras linhas para aguçar a sua vontade de conhecer o Egito, no próximo post tem as dicas práticas para você programar a sua viagem. Siga o Cumbicão nas redes sociais para não perder nenhum post!

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Diogo Avila

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