Talvez você já tenha ouvido falar que o Laos é conhecido como a “terra dos milhares de elefantes”. Se você nunca ouviu esta expressão, tudo bem. O que você não pode é perder a oportunidade de interagir de forma ecologicamente adequada com estes incríveis animais quando visitar o país. Confira ai como é o passeio com os elefantes em Luang Prabang.
Os elefantes são tão tradicionais e importantes na cultura do Laos que, até 1975, a sua bandeira trazia dois deles estampados.
A expressão surgiu em um tempo em que os elefantes eram utilizados na guerra. Guardadas as devidas proporções, eles eram os tanques de guerra da época; motivo pelo qual ser considerada a terra dos milhares de elefantes era algo para ser temido pelos inimigos.
Já imaginou você como imperador ter uma frota de milhares deles, muitas vezes vestidos com armaduras, enquanto os seus inimigos quando muito tinham cavalos? Uma vantagem e tanto no campo de batalha.
Infelizmente hoje não se pode mais dizer que o Laos seja, na sua acepção original, a “terra dos milhares de elefantes”.
O fato é que atualmente estima-se que existam não mais que 1000 elefantes selvagens no Laos. O número pode parecer pequeno, principalmente se você considerar o que havia no passado, mas a situação fica ainda mais triste quando você fica sabendo que o Laos tem a maior população de elefantes de toda a Ásia. Logo, nos demais países da região a população deve ser ínfima.
Some-se a estes selvagens, um pouco mais de 1000 que vivem em cativeiro.
Você já deve ter visto por ai que no Sudeste Asiático como um todo, antigamente, muitos eram utilizados como força de trabalho principalmente nas florestas para derrubar e carregar árvores de áreas desmatadas. Juro que não sei o que é pior: desmatar ou utilizar força animal para isso!?!?
Com a introdução em massa de maquinário, muitos elefantes acabaram sendo abandonados e posteriormente resgatados por organizações. É verdade que algumas destas organizações só visam o lucro e pouco fazem pela preservação dos animais que são treinados para serem meros marionetes para entreter os turistas.
Dai vem a pergunta: é ecologicamente correto este tipo de passeio?
Tenho certeza que muitos se fizeram esta pergunta logo no primeiro parágrafo do post.
De atividades com golfinhos no México e Cuba a acariciar tigres na Tailândia, já deixei passar a vez vários passeios deste tipo por não concordar com a forma como os animais eram tratados. Fiz isto porque notei que a maioria destes lugares não tem nada ou muito pouco de conservacionistas ou de reservas naturais / santuários. Quando muito, só mesmo o nome.
O fato é que busco sempre evitar atrações que limitam-se a explorar os animais para o mero deleite dos turistas. Até hoje só me rendi ao Aquário de Curaçao porque lá os golfinhos passam parte do dia soltos na natureza, e a este santuário no Laos onde a situação é semelhante.
Depois de alguns reviews bem positivos, encontrei uma atração deste tipo que é realmente séria e focada na preservação e trato adequado dos animais.
A Elephant Village Ban Xieng Lom busca acolher animais que foram recuperados do trabalho forçado e dar-lhes um ambiente mais saudável.
Em locais como este você não encontrará elefantes jogando futebol ou pintando quadros, coisa comum de muitos lugares que apenas exploram os animais. Na Elephant Village Ban Xieng Lom é possível interagir com os animais e até fazer um curso rápido de mahout (adestrador) – normalmente os animais vivem a (longa) vida inteira com um mesmo mahout.
Marcamos a atração diretamente no site da Elephant Village Ban Xieng Lom e dentre as várias opções, escolhemos a Half Day Elephant Experience (HDE).
Outras opções são 1 Day Mahout Experience with Bathing; Full Day Elephant Experience with Trekking (FDE); e 2 Day Mahout Experience with Overnight (M2D).
A experiência custa a partir de US$50 e você precisa separar um período inteiro do dia porque não é muito perto de Luang Prabang e a experiência em si é demorada como detalho abaixo.
Marcado o horário, eles te pegam no hotel e te levam em uma confortável van até o santuário.
A primeira coisa que você nota ao chegar no santuário é que o lugar é lindo. Super bem conservado e situado às margens do Rio Nam Khan. Dá vontade de ficar horas ali apreciando a paisagem e a tranquilidade do lugar.
A experiência começa com uma breve aula sobre os animais e um treinamento expresso de como lidar com eles e como montar nele.
Sim, dá para andar no elefante! Mas como é um lugar bem ao natural, você não irá encontrar aquelas cadeiras enormes que são montadas no elefante. Você monta direto nele, sem sela nem nada, ao natural como fazem os locais, atrás das orelhas – e por um tempo super limitado para não prejudicar o animal.
Aliás, você notará que os mahout ficam o tempo todo tocando os elefantes com os pés. Isto porque além de comandos orais, os também pés servem dar instruções aos animais. O incrível é que são toques sutis e suaves. Não é à toa que os animais passam a vida com o seu treinador.
Nesta breve conversa, os instrutores também passam alguns comandos caso queira tentar:
– andar = pie
– voltar = dour
– virar para esquerda = sai
– virar para direita = kwa
– parar = how
– ajoelhar = map
– dobrar a perna direita para subir = seung
– agradecer = kop chai lye lye (normalmente dando uma banana) – mais fácil dar um abraço no paquiderme do que conseguir falar tudo isso certo.
Difícil é lembrar de tudo isso em cima de um animal que pesa toneladas!!!
Dali, partimos para um barco que nos levou para o outro lado do rio, coisa de 3 minutos, literalmente.
Já na outra margem do rio, avistamos os elefantes soltos. Este é um dos maiores diferenciais do Elephant Village Ban Xieng Lom, já que eles passam a maior parte do dia soltos em uma área enorme e com vegetação nativa.
Acompanhados do nosso guia (super simpático), subimos uma pequena trilha para ver os bebês elefantes.
Lindos, mas nem tão bebês assim, já que tinham 6 e 8 anos, não tem como não se encantar com eles.
Neste momento somos convidados a oferecer bananas para eles. Você pega um monte de bananas achando que vai conseguir ficar um tempão ali com os “pequenos” na sua frente, mas não leva mais que alguns segundos para você ver que eles devoram tudo. Uma experiência incrível.
Pausa para fotos e segue-se para o local de “embarque” para o passeio nos elefantes.
Aqui um detalhe. Como existem dois pontos na trilha para embarcar e desembarcar, pode ser que o seu trajeto seja o inverso do que fizemos. Você pode eventualmente começar a sua experiência andando com o elefante na beira do rio e terminar na visita aos bebês elefantes.
O importante é que você deve ir de chinelos. Primeiro porque assim conseguirá montar no elefante sem machucar ele (muito importante). Segundo que a chance do caminho estar cheio de lama é enorme e a chance de você perder seu tênis lá é grande.
O guia nos indica um mahout e um elefante. No meu caso, era uma fêmea de uns 40 anos – na flor da idade 🙂
Ai ele questiona se você se sente confortável / seguro de ir sozinho com o elefante ou se quer que ele vá junto.
Foi ai que eu fiquei preocupado. Com o Cumbiquinho e a Sra. Cumbicona? Que nada! Comigo mesmo. Hahaha!!! Desde uma experiência mal sucedida com um cavalo quando tinha uns 6 anos de idade que eu não monto em nada que não tenha pedal ou motor. Kkkkkk
Respirei fundo e pensei: eu não dei a volta ao mundo e paguei uma grana para estar aqui e amarelar agora ou pedir para o mahout ter que ir comigo, né? Na linha de você um franguinho ou um viajante intrépido, decidi que era hora de superar o assunto.
Acho que fiz uma cara de tão confiante que o mahout, que foi caminhando ao meu lado conversando com a paquiderme para dar lhe as instruções, repetia de forma incentivadora: “You are doing well, Sr.”, “You could be a mahout, Sr.”. Acho que deveriam inscrever ele para dar uma palestra motivacional!!!
Só me senti mais aflito em dois momentos.
Quando a minha amiga teve que descer uma ladeira onde as patas dela entravam uns 30cm na lama e por não ter onde se segurar, resolvi descer quase que tombado para trás – quem viu a cena deve ter morrido de rir!!!
A segunda, já bem mais divertida foi no final do passeio quando todos os elefantes seguem o caminho por dentro do rio. O meu mahout perguntou se eu queria me molhar. Como eu estava com a câmera na bolsa, pedi que não e ele disse sabe-se lá o que em laosiano para ela. Logo pensei: Será que ela é mesmo obediente? Quem garante que a minha amiga não iria querer se refrescar?
Felizmente ela respeitou o nosso combinado e mesmo entrando bastante no rio, sai seco.
Já o Cumbiquinho e a Sra. Cumbicona saíram com um super banho de rio dado pela tromba da elefanta que resolveu beber água e também se refrescar. Aposto que eles adoraram porque fazia um calor de matar aquele dia.
É adequado para crianças?
Não só é adequado como também é o programa mais legal para fazer com os pequenos viajantes na região. É uma daquelas experiências que eles guardarão para sempre.
A única coisa foi que obviamente o Cumbiquinho e a Sra. Cumbicona foram com o mahout junto. Ela na frente, o Cumbiquinho no meio e o mahout atrás.
O pequeno ficou um mês falando do assunto, principalmente porque no voo da ida com a Emirates, ele ganhou um elefantinho de pelúcia. Pronto, estava criado aquele link de interesse que falei no post sobre viajar com crianças.
Finalizado o passeio nos elefantes, voltamos aos barcos, como aquelas voadeiras. O destino era a Sae Waterfall, uma das duas cachoeiras mais famosas de Luang Prabang.
Particularmente eu não sabia que neste mesmo passeio iríamos conhecer a Sae Waterfall, o que acabou sendo uma ótima ideia, já que tendo dado prioridade para conhecer a cachoeira Kuang Si (assunto do próximo post), eu não tinha mais tempo disponível no nosso itinerário de viagem.
Depois de uns 10 minutos de viagem de barco pelo Rio Nam Khan, chegamos à Sae Waterfall, uma cachoeira um pouco menor que a Kuang Si, mas que também merece a visita pela beleza local.
Semelhantemente à Kuang Si, você encontrará várias quedas de água em meio às árvores. Mas aqui, diferentemente da mais famosa cachoeira, não há uma grande queda de água.
Um mergulho na enorme piscina que é formada pela queda de água principal é algo essencial.
Só aviso que, mesmo em dias quentes, a água é absurdamente gelada. Leva um certo tempo para você se acostumar, mas é uma delícia.
O local tem algumas lanchonetes e banheiros. Nada muito arrumado não.
Depois de quase 1 hora ali se refrescando, o nosso guia nos embarcou novamente no barco para voltarmos ao santuário e almoçarmos.
O almoço, incluso no preço do passeio, é simples mas muito saboroso.
Depois disso você tem um tempo para relaxar e conhecer um pequeno museu com artigos para aprender mais sobre estes incríveis animais.
Por mais que a esta passagem pela Ásia tenha tido vários pontos altos, interagir com os elefantes de forma mais ecologicamente possível foi um dos destaques da viagem.
No próximo post, vamos contar como visitar a cachoeira mais famosa do Laos: Kuang Si Falls.
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