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Hoi An, o Vietnã que eu queria ver

Por mais que a gente pense, estude e faça mil simulações, nem sempre quando a gente planeja uma viagem escolhe aquilo que é melhor. Foi assim ou quase assim na nossa viagem pelo Vietnã, já que por pouco quase deixamos de conhecer Hoi An, uma das cidades mais interessantes do país e que merece estar nos seus planos de viagem.

Como tínhamos pouco tempo no país (4 dias para ser exato), não dava para conhecer mais que uma cidade, sob o risco de ficarmos correndo de um lado para o outro e ter um custo enorme de deslocamentos, o que quase sempre não é bom. Assim, optei por conhecer Ho Chi Minh ao invés de Hanói e também deixar Halong Bay para uma outra oportunidade.

As típicas construções amarelas de Hoi An.
Muitas das ruas são enfeitadas com as típicas lanternas da região.

Mas como os nossos dias em Ho Chi Minh renderam muito e conseguimos ver tudo o que queríamos, acabou sobrando um dia inteiro. Juntando um dia livre mais a minha inquietação, resolvi procurar algo mais para fazer. Confesso que olhando os arredores da antiga Saigon não encontrei nada que me convenceu passar mais um dia ali. Porém lembrei de um epsódio de Pedro Pelo Mundo onde o Pedro Andrade mostra uma cidade histórica que tem justamente a proposta de mostrar um Vietnã mais tranquilo e histórico: Hoi An. Remédio perfeito para os dias de agito e trânsito de Ho Chi Minh.

Logo pensei: melhor ver em um dia do que me arrepender pela vida inteira de não ter ido. Dito e feito, foi um bate-e-volta delicioso que deu super certo. Claro que se tivéssemos condição de passar ao menos uma noite ali teria sido muito bom, mas era simplesmente impossível.

Como fazer o bate-e-volta.

O desafio ficou por conta de como chegar lá em tão curto tempo. De Ho Chi Minh até Hoi An são pouco mais de 900km. Estava na cara que de carro seria simplesmente impossível. Porém fuçando no Google Flights, achei uma opção que parecia loucura, mas seria a única forma de conhecer a cidade: ir de avião. Ok, sei que parece fora da caixa fazer um bate-e-volta de avião, ainda mais tão longe de casa, com uma criança pequena e tantos outros poréns. Mas acompanha o racional:

A única forma possível de fazer este bate-e-volta foi voando com a VietJet.
Tem vários voos durante o dia, pegue o mais cedo para aproveitar melhor.

O voo de Ho Chi Minh até Da Nang, uma cidade vizinha de Hoi An, levava 1h15 minutos e precisaríamos de mais uns 40 minutos para ir dali até Hoi An. Com muitos voos durante o dia, não dava para deixar passar. Sugiro apenas que você pegue o primeiro voo do dia para ir e o último para voltar, assim terá mais tempo lá.

Mas e o custo? O voo ficou em pouco mais de R$ 700 para nós três, ida e volta voando pela VietJet, uma low costvietnamita da qual farei o review logo mais. O translado teria ficado em R$ 50 para cada pernada de táxi. Eu por receio optei por usar na ida um transfer da Viator que custou uns US$25 (fomos nós três em uma van grade onde caberiam mais umas 10 pessoas). Na volta, contratei um taxista em uma loja da cidade e não gastamos mais que R$ 25. E na prática o trajeto entre as duas cidades, como não tem trânsito, levou uns 30 minutos.

Falando assim pode parecer que ter que sair do hotel umas 5hs da manhã para pegar o voo das 7h tenha sido corrido, mas sem o trânsito local por conta do horário, sem malas para despachar (só uma mochila leve e carrinho de bebê) e pegar na esteira, confesso que chegamos em Hoi An mais dispostos do que de uma viagem normal.

Sobrevoando o interior do Vietnã.

No final, foi um bate-e-volta e tanto, não só por descobrir que é possível fazer umas “loucuras” assim e também pela cidade que é linda. Se você, como nós não tem uns 2 dias para passar lá, ai está a receita de como aproveitar seu tempo para conhecer mais uma cidade.

O que fazer em Hoi An.

Talvez muita gente nunca tenha ouvido falar desta pequena cidade próxima ao litoral do Vietnã, mas saibam que ela é considerada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, de tão significativa que é sob o ponto de vista cultural e histórico.

Em Hoi An, a primeira coisa que chama a atenção é a tranquilidade que o lugar transmite aos visitantes, tem até música ambiente e agradável tocando na rua principal. É verdade que em muito influenciado pelo referencial viciado pelo agito de Ho Chi Minh ou outras cidades do Vietnã que são tipicamente frenéticas, ali tudo parece mais calmo. Mas é sério, no geral até as pessoas são mais atenciosas (e olha que os vietnamitas já são bem receptivos!). Ao todo são pouco mais de 134 mil habitantes.

Pela arquitetura local, tranquilidade e profusão de chapéus em formato de cone (não só dos turistas não!), dá para dizer que Hoi An foi o que vimos de mais típico no Vietnã.

Lá o chapéu não é coisa de turista não.

Aliás se você quer um lugar para ver gente de verdade usando-o, é preciso sair das grandes cidades. Diferentemente de outros lugares e da ideia que eu tinha (talvez até pelo que vimos no México em relação ao sombreiro), o chapéu tão famoso e chamado de nón lànão é “coisa de turista”. O povo usa mesmo.

A grande utilidade dele é para proteger do sol no rosto já que o padrão de beleza local é pele branca. Nada de ficar torrando no sol. Super diferente da gente no Brasil. Se você gostou, compre um. É baratinho e super leve para levar na mala. Só não sei onde você vai usar aqui no Brasil. Talvez em uma festa à fantasia!?!?

Hoi An é bastante antiga, já no século II ela era um importante porto de comércio, atraindo povos de diversas regiões, como chineses, japoneses e mais tarde europeus (holandeses e espanhóis).

Todos estes povos tão diferentes deixaram para trás uma boa quantidade de prédios preservados que ainda podem ser apreciados hoje e que vão dos séculos XVI à XIX. Ai está o valor que garantiu à Hoi An o título de Patrimônio da Humanidade da UNESCO. O interessante é que os navegantes japoneses e chineses chegavam à Hoi An graças aos ventos das monções e só conseguiam retornar para casa quando as monções invertiam, fazendo com que tivessem que passar no mínimo 4 messes na cidade. Dai porque hoje são vistas tantas construções típicas destes povos, já que eles passaram a viver em Hoi An parte considerável do ano.

As típicas construções amarelas, lanternas e flores, um resumo de Hoi An.
Nas ruas do centro não passam caros. E mesmo poucas motos respeitam pedestres.
Muitas das construções hoje são utilizadas por lojas, restaurantes, hotéis e etc.

Apesar de toda esta pujança trazida pelo comércio, no século XIX ela foi praticamente abandonada porque o rio que ligava a cidade ao mar foi assoreado e boa parte da população foi morar em Da Nang. Ela só passou a ser novamente valorizada muitos anos depois quando notaram o potencial turístico do local. Por incrível que pareça, Hoi An praticamente não foi atingida pela Guerra do Vietnã graças a uma espécie de acordo entre os dois lados.

A parte da cidade que realmente interessa aos turistas por sua beleza arquitetônica é relativamente pequena, e você pode caminhar tranquilamente por todo este Centro Histórico sem precisar de nenhum tipo de transporte público. Por sinal, na maioria das ruas não é permitido o trânsito de carros ou motos – ufa ao menos em um lugar do Vietnã você não corre o risco de ser atropelado. 🙂

No mapa abaixo, todas as principais atrações. Nele fica claro o quanto tudo é perto, o que possibilitou conhecer a cidade em apenas um dia.

O acesso à Old Town é livre, mas para visitar o interior dos edifícios você precisa pagar uma taxa. A forma mais conveniente de fazer isso é comprar o passe Old Town ticket (120.000d) que dá direito a visitar até cinco diferentes atrações e também ao show de dança típica no Handicraft Workshop. Normalmente eles não exigem o ticket de quem está só indo às lojas e restaurantes, mas como o valor é baixo, vale investir já que o mesmo é revertido para a conservação local, fora que você terá a liberdade de conhecer o interior dos edifícios. Onde comprar? Na entrada da cidade velha ou nas próprias atrações.

Posto para compra dos bilhetes de acesso às atrações.
Ai é só chegar nas atrações que os ficais destacam os ingressos.

Para você não se perder pelas vielas locais, sugiro passar no centro de informações turísticas e ter pelo menos um mapa da área. São vários postos por ali: 30 Ð Tran Phu; 10 Ð Nguyen Hue; 5 Ð Hoang Dieu; e 78 Ð Le Loi, todos funcionando das 7h00 às 17h00.

A região do Centro Histórico é cortada pelo rio Thu Bom, e nas suas margens além de muitos edifícios históricos você encontra bons restaurantes, cafés e lojas. Mais abaixo dou mais detalhes sobre isso.

Rio Thu Bom que corta a cidade.

Andando pelas ruas de Hoi An você notará uma enorme quantidade de lanternas. De tudo quanto é cor, tamanho e formato, elas são bem típicas da região. Para os locais elas têm um significado parecido com o que as velas têm para algumas religiões.

As lindas lanternas estão por todos os lados e são um belo souvenir.

Se você puder, visite a cidade durante o Full Moon Festival que acontece no 14º dia do mês lunar (não me pergunte como se calcula!), quando a cidade inteira se ilumina com as lanternas coloridas. Este é considerado um dia sagrado para os budistas locais.

Algo que chamou bastante a nossa atenção foi a qualidade do artesanato e a beleza das lojinhas. Nada de coisas industrializadas made in China não. Além de enfeites, muitas roupas e acessórios à venda.

As lanternas, por exemplo, são feitas ali mesmo.
Algumas lojas são bem bonitas.
E tem muita coisa bonita. Infelizmente não tenho ideia de preços.

Um dos pontos mais visitados de Hoi An é a Japanese Covered Bridge (Chua Cau or Lai Vien Kieu). Esta pequena e charmosa ponte foi construída nos idos de 1600 pelos japoneses que habitavam a região; e desde então tornou-se um símbolo da cidade.

Japanese Covered Bridge.
Interior da ponte.
Lá dentro tem um templo.
A estátua do cachorro.

Reparem que na entrada da ponte existe de um lado um par de macacados e de outro cachorros. Uns dizem que isto deve-se ao fato de que a maioria dos imperadores japoneses da época teriam nascido nestes anos do calendário chinês, já outros dizem que foi porque a ponte foi construída entre estes anos.

Na cidade você encontrará uma série de edifícios denominados “Assembly Hall of Chinese Congregation”. Como os chineses que lá viveram certo período vinham de diferentes regiões, eles criaram congregações, como que clubes sociais, que também funcionavam como em templos. Então tem dos chineses de Fujian; do Cantão; de Chaozhou; e de Hainan. Vale a pena ver estes edifícios para conhecer de perto um templo chinês e também pela beleza das construções e decoração.

Destes, um dos mais bonitos é o Assembly Hall of Cantonese Chinese Congregation (Hoi Quan Quang Dong) que foi fundado em 1786 e é o mais bonito da cidade. Fica na 176 Ð Tran Phu.

Assembly Hall of Cantonese Chinese Congregation
Pátio central do Assembly Hall of Cantonese Chinese Congregation
Altar com aqueles típicos incensos em espiral.

Não se limite a visitar o hall de entrada e o altar das fotos acima, passe para a parte de trás do altar, onde há um jardim lindo com estátuas super diferentes, especialmente a do dragão.

Murais retratam a época de construção do hall.
Não deixe de conferir as esculturas do pátio situado nos fundos.

Já o Fukien Chinese Assembly Hall é de 1690 e também começou como um local de congregação, mas logo foi transformado em um templo à deusa Thien Hau que é a protetora dos marinheiros. Mas ele também tem uma parte dedicado a deuses que seriam responsáveis por ensinar às crianças menores, 12 habilidades que são tidas como essenciais; por isso é comum ver casais que ainda não tem filhos, ou esperam crianças, rezando ali.

Fica na 46 Ð Tran Phu.

Fukien Chinese Assembly Hall
Altar do Fukien Chinese Assembly Hall
Detalhes do telhado

Em Hoi An, existem muitas construções amarelas, mas as mais antigas mesmo são as que são completamente de madeira. Elas eram casas de famílias ricas do período em que os chineses e japoneses dominaram a região. Muitas destas casas foram transformadas em lojas, bares e restaurantes. Algumas delas ainda são residências e usando o seu passe de visitante é possível visitar o seu interior.

Uma delas é a Quân Thâng que data do século XVII e foi construída por um capitão chinês e é uma boa referência da arquitetura chinesa e japonesa que tanto influenciou o estilo local. Fica na 77 Tran Phu.

Quân Thâng
Interior da Quân Thâng

Outra casa que você também pode visitar é a Tan Ky House (101 Ð Nguyen Thai Hoc). Construída mais de 200 anos atrás, é o melhor exemplo de residência com influências japonesas e chinesas da cidade.

Hoi An tem muito templos e de tudo quanto é tipo e certamente você visitará alguns deles durante o seu passeio pelo centro velho da cidade. Um dos menores templos, nas não menos interessante é a Tran Family Chapel, que data de 1802 (21 Ð Le Loi).

Outro bem interessante é o Quan Cong Temple que é um dos principais templos do confucianismo. Erguido em 1653, homenageia o general Quan que é símbolo de lealdade, justiça e sinceridade. Fica na 24 Ð Tran Phu.

Quan Cong Temple

Agora se você quer conhecer um templo budista, vá ao Phuoc Lam Pagoda, um templo que data do século XVII (Thon 2a, Cam Ha). Outro ainda mais antigo é o Chu Thanh (Khu Vuc 7) que data de 1454.

Se você nunca viu uma farmácia chinesa, não deixe de conhecer a Diep Dong Nguyen House (58 Ð Nguyen Thai) com suas gavetinhas na parede cheias de medicamentos e ervas medicinais.

Depois de tantos edifícios e templos com influência japonesa e chinesa, vale conferir uma série de casas coloniais do período francês, as casas Tran Duong. Entre os números 22 e 73 da rua Phan Boi Chau há um belo conjunto de casas coloniais do século XIX.

Claro que em um lugar diferente como este não poderia faltar um mercado daqueles bem típicos. O Mercado Central de Hoi An que fica na Trần Quý Cáp tem muitas barracas de comida e é uma excelente opção para quem quer ver de perto como as pessoas vivem na feira que existe do lado de fora – não, não tem pastel de feira!!!

Mercadão de Hoi An.
Sim, é bagunçado, mas por isso mesmo é interessantíssimo.
Tem pitaya gigante.
Verduras que a gente nem imagina.
Vinho de cobra, mais precisamente feito com o sangue dela. Não recomendo!
E peixes sendo vendidos assim, ao ar livre (no chão!).

Se quiser comprar um belo souvenir, sugiro o Hoi An Handicraft Workshop (9 D Nguyen Thai Hoc) que vende itens de cerâmica, seda entre outros – muitos feitos ali mesmo. Ali você ainda assiste a shows típicos que normalmente acontecem entre 10h15 e 15h15 (mas confira o horário atualizado no Centro de Informações Turísticas).

Hoi An Traditional Art Performance House.
Lá, além do show típico, muito artesanato de alta qualidade.

Onde comer em Hoi An?

Como a cidade é super turística, opções de lugar para comer é o que não falta. E excelentes por sinal.

Em Hoi An, sugiro experimentar um dos pratos mais típicos locais, o cao lầu. É um noodles de arroz com fatias de carne de porco e ervas frescas.

Um dos lugares mais interessantes de Hoi An para comer é o Vy´s Market (3 Nguyen Hoang das 8h00 às 23h00) – como o lugar é muito, mas muito bom, vou deixar os detalhes sobre os pratos para o post sobre O que e Onde comer no Vietnã, ok? Para adiantar só um pouco, a grande sacada dele é que ele funciona mais ou menos como uma mistura entre street food e hawker. São vários espaços com pratos super variados da cozinha local. Preciso dizer que a grande vantagem é que você experimenta um pouco de tudo? Excelente oportunidade para conhecer a cozinha local.

Com uma comida fabulosa, o Vy’s Market foi uma experiência e tanto.
O ambiente também é delicioso.

Outra boa opção é o Little Menu (12 Le Loi) que também serve pratos locais.

Também muito bem recomendado é o Chez Marcel que fica na 112 Nguyen Thai Hoc e tem pratos locais e franceses.

Precisando de um sorvete para refrescar do calor local? Vá à Enjoy Ice Cream (13 Nguyễn Phúc Chu – diariamente das 8h00 às 23h00). São “só” 50 sabores diferentes.

Agora algo que você realmente não pode perder em Hoi An, especialmente se gosta de café, são as cafeterias. A melhor escolha é a Hoi An Roastery que tem ao menos duas unidades no centro histórico. A pedida lá é o famoso egg coffee (sim, café com ovo) e os cafés gelados, ideais para o calor local.

Egg Coffee.
Hoi An Roastery.
E as opções geladas: Coco Cold Brew (um frapê de coco com café) e um Cold Brew (arábica local).

A única coisa que eu me arrependo deste tour é que por passarmos tão rapidamente pela cidade, não foi possível curtir ela à noite, quando ela fica toda iluminada com as lanterninhas e as pessoas fazem passeios pelo rio que também fica enfeitado. Então se você estiver pernoitando na cidade, anote ai mais um bom motivo para curtir Hoi An.

Literalmente, #FollowMeTo Hoi An, e conheça um destino incrível no Vietnã.

Pelo que oferece, Hoi An é certamente um destino a ser incluído na sua viagem para o Vietnã, nem que seja em um bate-e-volta pouco usual como o nosso!!!

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Diogo Avila

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