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Jerusalém: Aromas e sabores do bairro muçulmano

Literalmente uma montanha de temperos.

Poucas sensações me fascinam mais em uma viagem do que a sensação de “Putz, minha casa está longe pra caramba!!!!” Esta deliciosa sensação (e um certo frio na barriga) não é fruto apenas da distância, mas principalmente do chamado choque cultural. E neste aspecto, o Bairro Muçulmano de Jerusalém é uma das grandes experiências que já tive.

Sou turma que tem uma queda por lugares que sejam absolutamente diferentes do dia-a-dia a que estamos acostumados; na linha de quanto mais diferente da minha vizinhança melhor. E neste estilo meio que Indiana Jones, o melhor lugar de Jerusalém é o Bairro Muçulmano, chamado também de Muslim Quarter.

Uma típica viela no Muslim Quarter.

Poucas vezes vi um lugar tão pitoresco e, até mesmo apaixonante como este. Parte disso seja talvez fruto do encanto que a cultura árabe como um todo, justamente por ser tão diferente da nossa, desperta aos olhares mais atentos.

Cada saída do hotel mais parecia uma pequena aventura que se desenrolava diante dos nossos olhos naquelas vielas apertadas e cheias de história.

Carros? Nem pensar, apenas pedestres na maioria quase que absoluta das ruas e vielas.
Uma típica fonte árabe.

Diferentemente dos judeus, armênios e cristãos que praticamente só fazem uso da Old City, para fins religiosos, o muçulmano típico têm uma presença mais efetiva neste bairro de Jerusalém.

Nas vielas se vê de tudo, desde pássaros de estimação dos donos das lojas…
…a pequenos tratores que passando raspando pelas bancas das lojas (e visitantes!),
fazem o serviço de recolhimento de lixo e transporte de cargas maiores.
Bacana que parte do pavimento, mais rústico é dos tempos bíblicos!!!

Não só a área ocupada pelos muçulmanos é maior, como também sua população dentro da Old City é visivelmente mais numerosa – infelizmente não consegui estatísticas a respeito, mas o fato é claro aos olhos dos viajantes.

Nas agitadas vielas do bairro muçulmano de Jerusalém, eles não só fazem suas compras como também moram. As residências, normalmente ficam na parte superior das lojas ou até mesmo atrás de algumas delas.

Residências acima dos mercados. Algumas são muito bem conservadas.
E até que muito charmosas.

É bem verdade que a vida ali não deve ser nada fácil, já que as condições de saneamento e serviços estão longe do padrão de primeiro mundo encontrado na Jerusalém “fora dos muros”.

Já outras são o retrato da dificuldade do povo.
Um exemplo de gambiarra local.

Seja que hora do dia for, é possível notar uma quantidade incrível de crianças – alguns com menos de 4 ou 5 anos de idade – simplesmente brincando pelas vielas, e alguns já mais velhos trabalhando nas lojas ou vendendo pães e chás na rua. Logo, o bairro muçulmano é o mais agitado e colorido de Jerusalém. 

Crianças brincam em uma atípica viela do Muslim Quarter.

Interessante que apesar de uma aparente situação mais humilde, não existem pedintes nas ruas, quanto menos crimes graves.

Vale aqui um destaque especial à simpatia (às vezes até exagerada! Rsss) dos árabes locais, que a despeito do interesse que qualquer comerciante possa ter por turistas brasileiros ($$$), são verdadeiramente simpáticos e atenciosos.

Não estranhe se um local puxar papo. 

Lembro bem de um garoto muito humilde que estava vendendo doces em uma loja e ao me vender um doce recheado de pistache e mel (hummm), e percebendo que eu era brasileiro pela evidente camiseta canarinho – “cartão de boas vindas naquelas bandas” – teimou, como torcedor do Barça (sim até lá!) que eu deveria “convencer” o Neimar a jogar no time de coração dele. Simples assim, como se eu fosse chegado do craque. Pô nem santista eu sou! Rsss. Valeu o papo e a simpatia do garoto!

Uma típica viela com lojas.

Atrações do bairro muçulmano

Fora o Temple Mount de que falamos anteriormente, não existem “atrações” propriamente ditas no lado muçulmano da Old City. Mas isto não desmerece em nada a região, muito pelo contrário, dá ao viajante a oportunidade de fazer o que de melhor o bairro oferece: perambular (e perder-se, literalmente) nas vielas pelo simples prazer de passear e curtir uma cultura tão fascinante e diferente da nossa. 

Claro que para quem for muçulmano, fica um atrativo a mais, a possibilidade de visitar as mesquitas da região, algo infelizmente não permitido àqueles que não seguem esta religião. 

Minarete de mesquita onde são instalados os auto-falantes para o chamamento
do vídeo abaixo.

Eis aqui o único ponto que eu considero negativo da cultura árabe, uma certa segregação religiosa em algumas regiões e/ou países. Felizmente isto não aconteceu na Turquia, nosso próximo destino. Em Jerusalém, tive que me contentar em ouvir o chamado às orações:

O bairro muçulmano de Jerusalém é um emaranhado de vielas apertadas lotadas de gente, onde todos parecem falar (e alto) ao mesmo tempo. Mas isso não faz a menor diferença, já que não dá para entender nada mesmo!!!

Mas não há nada de glamoroso ou requintado, pelo contrário.

O lugar é bastante simples e confuso com vielas nas quais perder-se é quase que obrigatório.

Saint Mark Road, um dos principais pontos de entrada ao Muslim Quarter
a partir do Jaffa Gate.
Cedinho, antes da abertura das lojas, nem parece o mesmo lugar.

Espere ver uma “lujinha” atrás da outra, cheias de itens interessantíssimos (e algumas tranqueiras é verdade).

As lojas vendem uma variedade de produtos: temperos aos rodos, incensos; artigos de couro e cobre, e muitas, mas muitas pashiminas e outras peças de roupa mais típicas da região.

Algumas lojas muito bonitas, com produtos de marcheteria… 
… outas com tapeçaria e artigos de decoração em cobre.
E outras…bem, deixa para lá! Rsss

Uma atração especial aos sentidos são as lojas de temperos e incensos, uma perdição. Pena que chega uma hora que o olfato já nem percebe as diferenças de aroma.

O incenso lá é muito diferente daquele a que estamos acostumados, mas o cheiro é delicioso.
Os temperos também são uma atração à parte, embora alguns deles sejam simplesmente desconhecidos do nosso paladar.

Um detalhe é que algumas lojas, por pertencerem em sua maioria a muçulmanos, elas simplesmente “fecham” em alguns períodos das tardes das sextas-feiras por motivos religiosos.

A honestidade é tão grande que basta fechar a “lujinha” com uma cadeira e ir rezar.

Embora este clima de mercado árabe possa ser encontrado em todo o bairro muçulmano, as ruas Saint Mark; Al-Wad Rd e Souq Khan as-Zeit St, são as mais interessantes. Recomendo ir caminhando em direção ao Damacus Gate que é o coração do bairro árabe.

Outra área interessante é o Souq al-Qattanin (The Cotton Merchants’ market), um este mercado recentemente renovado, foi originalmente um mercado Cruzado. Com 100m de comprimento e 50 lojas no piso inferior e residências no superior. Se o telhado estiver aberto é possível subir para ter belas vistas da cidade.

Agora entendi porque a 25 de Março tem tanta loja de tecidos. Rsss
Detalhe aos trajes típicos pendurados.
Um mar de tecidos e pashiminas. 
Quase que não sobra espaço para passar entre as lojas.
Claro que tem roupa para dança do ventre.

Mas nem só de vielas apertadas vive o comércio local, como dá para ver pela região da rua Sud Aftimos abaixo.

Talvez o tataravó dos shoppings.

A partir da na esquina da Habad St com a St Mark’s Rd, subindo uma pequena escada de metal, chega-se ao Rooftop Promenade, de onde se têmboas vistas da Old City e em especial do Temple Mount ou a escada de pedra na esquina ao sul da Khan as-Sultan. Deliciosamente inevitável, a comida local merece alguns comentários e fotos, é claro.

Acredito que até mesmo por conta da proximidade que nós paulistas temos com a comida árabe, foi no bairro muçulmano que tive as melhores experiências, digamos, gastronômicas de Israel.

Costumo dizer que em viagens dificilmente encontramos uma culinária típica igual àquela que temos por aqui – até mesmo porque os imigrantes costumam ao longo dos anos fazer várias adaptações. Gosto não se discute, mas por exemplo, a pizza brasileira é mais gostosa que a servida na Itália; a comida chinesa que comemos aqui não é típica da China, mas sim de uma região desta (Cantão); e por ai vai…

Entretanto a culinária árabe do bairro muçulmano surpreendeu. Espere encontrar literalmente tudo que estamos acostumados a comer em termos de culinária árabe, exceto o Beirute, que é uma invenção dos paulistas de origem libanesa hein!!!

A variedade de sabores das esfirras nem era tão grande, mas o tamanho…
Esta recheada com um queijo branco e coberta com gergelim era uma delícia.

Também não faltam os pães, especialmente aqueles semelhantes ao pão sírio, lá chamado de pita ou khubz ai em árabe. Eles são assados muito rapidamente em fornos enormes a uma temperatura altíssima.

Sim aquelas belas esfirras devem ter saído de uma “padaria” como esta.
Melhor nem pensar e comer logo, afinal, ninguém passou mal.

Embora não tenha experimentado em Israel, uma boa pedida que provei em outros lugares é o prato árabe chamado Kebab, algo semelhante no aspecto com churrasquinho grego, mas absolutamente delicioso e limpinho, diga-se de passagem.

Kebab sendo assado.
Para beber, é comum servirem suco de laranja nas ruas.
Mas o que eu realmente recomendo é esta cerveja. A única no mundo feita na Palestina!
Coisas que talvez só se prove uma vez na vida – espero estar errado!

Algo quase que como obrigatório é comer aqueles doces árabes maravilhosos, daqueles cheios de pistache; aqueles que mais parecem pequenas balas de goma, e os aqui chamados de ninho e dedo aberto com nozes, avelã ou pistache.

Banca de doces com tâmaras
Olha o tamanho dos pistaches.
Pena que não dava para provar todos.

Destes doces, os melhores talvez sejam as baklavá ou knaffe. Embora seja possível saboreá-los praticamente em qualquer esquina, o melhor que comi (e os guias recomendam) foi no Jafar
Trata-se de uma pequena lanchonete que está a 60 anos na Cidade Velha, mais precisamente no Hanzat Market – pergunte aos locais, todo mundo conhece. Ah se eles tivessem um delivery trans-oceânico…

Fachada da loja, cuidado para não passar direto.
Porção de baklavá. Detalhe aos talheres, todos da Delta Ailines (Rssss)
Delivery para levar para o hotel.
Variedade de doces. E lá não é Karo não, é mel mesmo!!!
Pistache sem miséria.

Claro que nem tudo é atrativo aos nossos costumes, mas o que vale mesmo é a experiência. As fotos abaixo, no melhor estilo Andrew Zimmern valem mais que mil palavras:

Conservas descobertas no meio da rua era pouco, perto de 
frangos, salsichas e peixes na mesma situação.
E o que dizer então de pedaços de carne inteiros quase que no meio da rua? Imagina chegar em casa carregando um trem destes nas costas?

O bairro muçulmano é um mundo à parte que precisa ser vivenciado e não apenas visitado.

Pare, respire fundo e observe ao redor, ouça o idioma absolutamente ininteligível; repare nas roupas e nos véus coloridos das mulheres que passam envergonhadas com os olhares estranhos; nos aromas exóticos dos temperos e incensos; delicie-se com os sabores que encantam o paladar; e com as cores variadas das lojas que confundem os olhos. E lembre-se: “Putz, minha casa está longe pra caramba!!!!” Em todos os sentidos!!!

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