Contrapondo-se ao bairro muçulmano que foi tema do nosso último post, temos o Armenian Quarter e o Jewish Quarter, respectivamente os bairros Armênio e Judeu de Jerusalém.
Embora dados oficiais informem que aproximadamente 2.500 armenios vivem na região, aos visitantes, o Armenian Quarter parece um tanto quanto deserto. Pode-se andar por várias ruas sem ver sequer uma pessoa que não seja turista.
Uma típica rua do Armenian Quarter. |
O idioma da placa do seminário é muito diferente. |
Bom, mas quem são os armênios? Embora tenha sido durante vários anos uma das repúblicas da URSS e anteriormente dominada por vários impérios, a Armênia – situada entre a Turquia, Geórgia, Azerbaijão e Irã, é atualmente uma nação independente. Os primeiros registros históricos deste povo datam de 515 a.C., e dizem que no seu território estava situado o Jardim do Éden bíblico. Curiosamente, foi a primeira nação a adotar o cristianismo como religião oficial, em 303.
Um dos fatos mais marcantes da história desta nação é que entre 1915 e 1923, os armênios sofreram o que pode ser considerado o primeiro genocídio do século XX, quando o Império Otomano exterminou nada menos que 1,5 milhão de armênios.
Um cartaz na rua lembrando o genocídio armênio. |
A área em que está situado o Armenian Quarter passou a ser ocupada como residência deste povo a partir de 1915, por conta da chegada dos refugiados e sobreviventes do genocídio.
A melhor forma de explorar o Armenian Quarter é a partir do Jaffa Gate, pois o bairro fica à direita da Torre de David.
A principal atração local é a Hagia Maria Sion Abbey também conhecida como Abbey of the Dormition, uma belíssima igreja construída em 1898.
Torre da Hagia Maria Sion Abbey. |
Viela ao redor da Hagia Maria Sion Abbey. |
Detalhe do órgão. |
Belos mosaicos tanto no chão… |
Quanto no altar. |
Detalhe do interior da Hagia Maria Sion Abbey. |
De acordo com a tradição local, este teria sido o local onde a Virgem Maria faleceu, razão pela qual foi edificada uma cripta abaixo da igreja.
Escultura na cripta da Hagia Maria Sion Abbey. |
As diferenças entre o Muslim e o Jewish Quarter são abissais, não só pelas divergências religiosas.
Enquanto o primeiro é naturalmente agitado e populoso, marcado por um comércio efervescente; o segundo é ocupado quase que integralmente por sinagogas e instituições educacionais, com algumas poucas lojas e residências.
Uma típica rua do Jewish Quarter. |
Além do Muro das Lamentações (Western Wall) de que falamos anteriormente, uma das principais atrações do Jewish Quarter é o Cardo.
Seria este o shopping mais antigo do mundo? |
Quase que dá para imaginar como devia ser no passado. |
Situado no meio do Bairro Judaico, é a reconstrução da original rua principal da Jerusalém do período romano e bizantino. Colunas e outras ruínas foram encontradas no local, onde hoje funcionam joalherias e lojas de souvenires (caras é verdade).
Estrutura original dos tempos bíblicos. |
Um mural representando como as coisas eram naqueles tempos. |
O “mapa” da cidade neste mosaico bizantino. |
Rua nos arredores do Cardo. |
Outra atração do Jewish Quarter que merece ser visitada é a Tower of David. Situada ao lado do Jaffa Gate, trata-se de uma fortaleza construída no século I por Herodo cuja inspiração para sua enorme torre veio do Farol de Alexandria, uma das Oito Maravilhas do Mundo Antigo.
Exterior da Tower of David. |
Após a morte de Herodo, os romanos passaram a utilizar o edifício como residência do governador local até o ano de 66 d.C.
Maquete para dar uma ideia de como é o local. |
Belos jardins. |
Uma vista completa do pátio central. |
Um oásis no meio de Jerusalém. |
Dentro da fortaleza, o visitante vai passando por diversas salas nas quais a história de Jerusalém é contada de uma forma bastante intuitiva e didática. Vale a pena para entender um pouco mais a respeito desta cidade singular.
Destaque especial para o modelo em larga escala da antiga Jerusalém no subterrâneo da fortaleza.
Assim era Jerusalém no passado! |
Não deixe de subir ao todo da fortaleza, de onde se tem uma das melhores vistas da cidade, tanto do lado antigo quanto do novo, fora das muralhas.
De um lado o moderno… |
Do outro o antigo. Só a vista já vale o ingresso. |
As visitações podem ser realizadas de setembro a junho, de domingo à quinta-feira das 10hh às 16h00; e de julho a agosto domingo à quinta-feira e sábados das 10h00 às 17h00, e sextas-feiras das 10h00 às 14h00. A entrada custa 30 NIS. Dependendo da época do ano, existe um show de projeções e música no interior da fortaleza.
Embora existam várias sinagogas em Jerusalém, caso você tenha tempo para visitar apenas uma, veja a Hurva Synagogue – também conhecida como Hurvat Rabbi Yehudah he-Hasid. Situada a poucos metros do Cardo e fundada no início do século XVIII, foi destruída pelos muçulmanos poucos anos depois, em 1721.
A imponente Hurva Synagogue. |
Ela permaneceu em ruínas por 140 anos até ser reconstruída com o seu formato atual.
Embora numa primeira impressão, a visitação possa parecer restrita demais, não se intimide. Basta seguir o horário aberto a visitantes, colocar quipá (para os homens) e cobrir-se (para as mulheres) e portar-se de forma respeitosa. E nada de fotos hein! Confesso que foi uma experiência muito interessante.
Recomendo também uma pausa para apreciar o movimento na praça diante da sinagoga, especialmente se for dia de Sabbat. |
Ali nos arredores da Hurva, fica também a Tiferet Yisrael Synagogue, ou melhor, o que sobrou dela. Esta sinagoga que acabou servindo como ponto de resistência da guerra de independência de Israel foi totalmente destruída.
Interessante que eles resolveram mantê-la assim mesmo como lembrança do passado. |
Outra atração interessante na região é o Mt Zion (Monte Sião), um local sagrado tanto para cristãos (suposto local da Última Ceia) e quanto para judeus (tumba do rei Davi).
O Cenáculo (do latim Cenaculum) é o termo usado para local onde ocorreu a Última Ceia. A palavra é um derivado da palavra latina cena, que significa “jantar”. O Cenáculo está situado no andar superior da Igreja da Dormição.
O atual quarto tem um estilo gótico particular de século XIV. O edifício original foi uma sinagoga. O edifício foi poupado durante a destruição de Jerusalém sob o reinado de Tito (70 d.C.), e três paredes originais ainda existem: o Norte, Leste e Sul.
Frente a frente com palco de outro evento bíblico. |
Em 1009 d.C o edifício foi arrasado pelos muçulmanos sob o comando do califa Al-Hakim e pouco tempo depois reconstruído pelos Cruzados, como sendo uma basílica com três naves e uma alusão a Santa Maria.
Detalhe à inscrição em árabe e ao mihrab na parede. |
Teria sido este o site da famosa cena retratada por Da Vinci? |
A basílica foi destruída em 1219 pelo sultão de Damasco. Monges Franciscanos cuidaram do Cenáculo, restaurando também o edifício com abóbadas góticas, de 1333 a 1552, até que os turcos capturaram Jerusalém e baniram todos os cristãos.
Neste período, o edifício foi transformado em uma mesquita, conforme evidenciado pelo mihrab na direção de Meca e uma inscrição árabe proibindo orações públicas no local. Cristãos não foram autorizados a voltar até o estabelecimento do Estado de Israel em 1948, e mesmo assim até hoje a realização de missas no local é proibida.
Ao lado do Cenáculo, fica a Tumba do Rei David. Embora não exista unanimidade quanto à idéia de que o rei judeu tenha sido de fato enterrado aqui, o lugar permanece como importante ponto de peregrinação judaica. Aberto de domingo à quinta, das 8h00 às 18h00, e, às sextas, das 8h00 às 14h00. Gratuito.
Estátua do Rei David. |
Interior da tumba. |
Por fim, para quem quiser, vale a pena dar uma olhada na humilde sepultura de Oskar Schindler, austríaco famoso por salvar mais de 1.200 judeus do holocausto.
O cara foi um herói nacional de verdade. |
Precisando de uma pausa para comer algo? Recomendo comer um Falafel, um bolinho de grão de bico frito que no caso da foto abaixo foi no pão com húmus e deliciosos temperos locais.
Pausa para um lanche! |
E por falar em comida judaica, devemos lembrar que eles seguem o regime Cashrut ou kashrut (em hebraico: כַּשְרוּת), que é o conjunto de leis alimentares do judaísmo. A comida, de acordo com a lei judaica é chamada de kosher, do termo hebraico kashér, que significa “próprio” – neste caso, próprio para consumo pelos judeus. Os judeus que seguem o kashrut não podem consumir comida não-kosher, porém existem exceções quanto à utilização não-alimentícia de produtos não-kosher, como, por exemplo, numa injeção de insulina de origem porcina ministrada a um diabético.
A comida que não estiver de acordo com a lei judaica é chamada de treif ou treyf. Num sentido mais técnico, treif significa “rasgado”, “dilacerado” e se refere à carne que veio de qualquer animal que contenha algum defeito que o torne impróprio para o abatimento. Um animal que tenha morrido por qualquer meio que não o sacrifício ritual é chamado de neveila, que significa literalmente “coisa suja”.
Entre os alimentos taref ou treif podemos citar: carne de porco, camarão, lagosta, todos os frutos do mar, peixes que não possuem escamas, carne com sangue, e qualquer alimento que misture carne e outros produtos de origem animal como ovos e leite ou derivados. Um judeu ortodoxo não consome queijo até 6 horas depois de comer carne, por exemplo.
Muitas das leis básicas do cashrut derivaram de dois livros da Torá, o Levítico e o Deuteronômio. A Torá não afirma explicitamente o motivo da maioria das leis cashrut, e diversas razões foram apresentadas para estas leis, desde filosóficas e ritualísticas, até práticas higiênicas.
O islamismo também tem um sistema relacionado, embora diferente, chamado de halal, e os dois possuem um sistema comparável de sacrifício ritual (shechita no judaísmo e dhabihah no islã).
No próximo post, vamos cruzar a fronteira da Palestina para visitar Belém e o local de nascimento de Jesus Cristo.
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2 comentários
Seus relatos sobre Israel são espetaculares! Estou indo a Jerusalém ainda este mês e, graças à leitura do seu blog, mal posso esperar para chegar lá. Parabéns e obrigada!
Obrigado! Espero ter ajudado.
E aproveite muito, Israel é um dos lugares que mais quero visitar novamente.
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Abraço.