Kyoto. Até mesmo por conta da facilidade dos trens de alta velocidade, os bate-e-volta a partir de Tóquio são uma excelente opção de passeio para quem quiser num curto espaço de tempo dar ao menos um espiada em outras cidades próximas.
Existem muitos destinos interessantes que podem ser visitados num bate-e-volta. Claro que este esquema exige uma dose de programação e disciplina, pois além de saber antecipadamente o que se pretende ver na cidade próxima, você precisará de um itinerário mais enxuto do que aquelas pessoas que optam por uma estadia mais longa na cidade. Some ainda que por ter menos tempo, invariavelmente você precisará.
Assim, a chamada day trip, nome chique para o bate-e-volta, tem as suas limitações e vantagens. Se de um lado você dificilmente verá tudo que gostaria, de outro poderá ampliar o seu passeio para outras cidades sem ter que fazer um deslocamento mais complicado com todas as suas malas e aquela trabalheira de encontrar um hotel, fazer check-in e etc.
Particularmente eu não considero factível um bate-e-volta cujo deslocamento seja superior à 3 horas para ir e mais 3 para voltar (e olhe lá!). Não dá para passar mais tempo num deslocamento do que curtindo um passeio, concordam?
A decisão de fazer um bate-e-volta é algo muito particular. Depende muito do seu ritmo de viagem (sim, às vezes elas são mais cansativas), e do seu interesse pelo lugar – às vezes tem um determinado lugar que, embora compense muito conhecer, uma estadia propriamente dita pode não compensar.
Avalie caso a caso diante de suas necessidades e interesses.
A partir de Tóquio, as opções são variadas, desde a histórica Nikko até a moderna Yokohama, passando até mesmo pela cidade litorânea de Ito ou por uma visita ao Monte Fuji em Hakone – para este, sugiro a leitura deste post do Viaje na Viagem que traz mastigadinho como ir até lá.
Como nós tínhamos apenas um dia disponível para um bate-e-volta, escolhi algo mais típico e, na minha opinião imperdível: Kyoto.
Eu sei que muitos talvez estejam pensando: mas Kyoto não vale uma estadia mais longa? Certamente! Tanto que em 2004, passamos uns três dias lá. Assim, um primeiro alerta que faço é que embora um bate-e-volta seja perfeitamente cabível neste caso, se você tiver mais dias disponíveis, opte por se hospedar lá.
Seja qual for a sua escolha, a forma mais prática e conveniente de ir de Tóquio para Kyoto, é através dos Shinkansens (trens bala).
A viagem em si já é uma atração. Neste post vocês conferem as fotos e os detalhes de como adquirir os bilhetes de trem e tudo mais.
A viagem de Tóquio para Kyoto leva aproximadamente 2h30, e durante este trajeto dá para ver o Monte Fuji. Rapidamente é verdade! Para ser mais exato por uns 2 minutos, vocês verão ele da janela do trem. O Ricardo Freire dá uma dica para não errar: é só você se sentar no lado direito do trem, sentido de quem vai de Tóquio para Kyoto, e uns 20-25 minutos após a estação de Shinagawa lá estará ele. Entretanto o JapanGuide fala em 40-45 minutos. Na dúvida, cole a cara na janela! Kkkk.
Aproveito também para desmistificar um mito. Fuji-san não significa Sr. Fuji como popularmente muitos dizem – embora San signifique Sr. Na verdade em japonês San quer dizer também monte; e é este o real significado pretendido pelos japoneses. Então não adianta querer personificá-lo, embora possa parecer simpático.
Com 3.776m é o ponto mais algo do Japão. O formato dele não lhes parece familiar? Pois é, ele é um vulcão! É verdade que a sua última erupção foi em 1708, mas vai saber…
Quem visita Tóquio muito provavelmente sente falta de vivenciar algo mais típico e tranquilo, dada a quantidade de prédios modernos e a agitação da cidade. Talvez seja isto, e os templos é claro, que atrai tanta gente à Kyoto.
Capital imperial entre 1794 e 1868, Kyoto é a sétima cidade mais populosa do Japão, com 1,5 milhão de habitantes.
Ainda que ela tenha sido destruída por sucessivas guerras e incêndios no passado muito distante, ela acabou sendo poupada pelos aliados durante a Segunda Guerra Mundial justamente por conta do seu enorme e riquíssimo acervo histórico.
A porta de entrada para a maioria dos turistas que chegam à Kyoto é a Estação Central de trem. Se você pretender se hospedar poderá a partir dali fazer uso de táxi ou das linhas de metrô (duas apenas) que servem a cidade para chegar ao seu hotel.
Agora se você estiver só de passagem, ou mesmo para os deslocamentos diários, sugiro fazer uso dos ônibus de linha, pois as estações de metrô ficam muito distante das atrações (salvo no caso do Nijo Castle).
Confortáveis e com um preço muito acessível, eles são uma excelente opção de transporte pela cidade, mesmo com o trânsito um tanto quanto pesado, em contradição ao protocolo de não poluição que leva o nome da cidade.
Mas vamos às atrações.
Em termos de atrações turísticas Kyoto é uma cidade interessantíssima, com muita coisa para ser vista.
E como o movimento de turistas é grande, recomenda-se – se possível – deixar para fazer o bate-e-volta fora dos finais de semana, quando a cidade tende a ser mais procurada por turistas.
Uma das principais atrações da cidade é o templo Kiyomizudera um enorme templo de madeira construído na encosta de uma montanha. É certamente um dos templos mais conhecidos do Japão, e na minha opinião o mais belo.
Para chegar ao templo vocês passarão por uma rua cheia de pequenas lojas e restaurantes interessantíssimos. Preciso dizer que é um excelente lugar para comprar souvenires?
Fundado em 780 e construído exclusivamente com madeira, de sua sacada temos talvez a mais bela vista da cidade.
Um fato interessantíssimo e comprovado pela engenharia é que na construção do templo, não foi usado um prego se quer. Tudo ali está apoiado!
A exemplo de outros templos japoneses, o Kiyomizudera é composto por várias construções anexas, algo como pequenos santuários.
Um destes santuários, um dos mais curiosos é o Jishu Shrine. Situado atrás da construção principal, ele é dedicado àquele que seria o equivalente ao cupido na cultura japonesa.
Aliás, existe uma tradição local segundo a qual se você for de uma das pedras existentes no chão à outra com os olhos fechados, num percurso de aproximadamente 18 metros, terá sorte no amor. Imagina o tanto de gente que já caiu literalmente de paixão ali! Kkkk.
Outro ritual bastante curioso que vimos lá consiste em escrever seus problemas num pedaço de papel no formato de uma silhueta humana. Uma vez escritos, você coloca o papel num recipiente com água e faz uma oração. Quando o papel dissolver, seus problemas também estarão dissolvidos.
Ainda no complexo do templo, vocês encontrarão o Okunoin Hall, no qual existem várias estátuas de Jizobosatsu, o protetor dos natimortos. As pequenas estátuas são vestidas e enfeitadas pelas mães que perderam seus fetos. Admiro muito como as religiões orientais lidam com a questão da morte (talvez melhor do que as ocidentais), mas confesso que achei bastante triste.
De outro lado, praticamente escondido no meio da vegetação, está o o Koyasu Pagoda onde os japoneses rezam por um nascimento fácil e seguro de seus filhos.
E por fim, na parte baixa do templo fica a Otowa Waterfall, uma fonte segundo a qual suas águas teriam propriedades milagrosas. São três saídas de água, nas quais pode-se realizar um ritual de purificação como forma de garantir vida longa; sorte nos estudos ou sorte no amor – reparem que utilizei “ou”, pois dizem que é falta de educação querer tomar todas. Ok, não dá para ter tudo nesta vida!
Ao julgar pela quantidade de velhinhos absolutamente ativos no Japão, acho que a que dá mais certo é a longevidade. Concordam?
Aliás Kiyomizudera significa templo da água pura. Aproveite!
Para chegar lá: a partir da Estação de Kyoto, basta pegar os ônibus 100 ou 206, e em uns 15 minutos, por 220 ienes você estará na base da rua de acesso. Só mais 10 minutos de caminhada por ela e pronto! Pronto nada, a entrada custa 300 ienes. Funciona das 6h00 às 18h00 diariamente.
Para ver um pouco da Kyoto antiga um itinerário sugerido é fazer a descida do Kiyomizudera até o Yakasa Shrine, chegando ao distrito de Higashiyama. São 1,5km de vielas apertas e bem típicas.
Dali se está a poucos passos do bairro Gion, e principalmente da Hanami-koji. Ali, no meio de casas mais antigas e eventualmente algumas gueixas, e mais comumente suas aprendizes (maikos), fazem parte do clima local. Para chegar lá basta pegar o ônibus 100 ou 206 a partir da Estação de Kyoto e descer na parada Gion.
Se você estiver com o tempo apertado e der para ver apenas duas atrações, sugiro além do Kiyomisudera, o Kinkakuji (ou Golden Pavillion).
Algo que eu admiro muito nas religiões orientais é o fato de que eles costumam não ostentar nos templos, diversamente de outras tantas religiões. Basta ver que muitos templos são feitos apenas com madeira sem luxo algum.
Nesta linha, pode parecer estranho olhar para o Kinkakuji e não associar a uma preliminar ideia de ostentação. Mas existe uma explicação: originalmente ele não era um templo, mas sim a residência do shogun Ashikaga Yoshimitsu. Ele passou a funcionar como templo Zen a partir de 1408.
A construção atual é de 1397, pois o original foi queimado – dai a explicação para a Phoenix no topo do seu telhado. Ah, pode parecer óbvio, mas ele não é maciço, é folhado de ouro.
Enfim, não deixe de visitar e principalmente perder um bom tempo apreciando a belíssima paisagem dele refletido no lago. Boas fotos garantidas!
Para chegar lá: a partir da Estação Central de Kyoto, pegar o ônibus 101 ou o 205 e em 40 minutos, por 220 ienes você chega lá. Funciona diariamente das 9h00 às 17h00 e a entrada custa 400 ienes.
Sobrou tempo?
Sugiro uma visita ao Nijo Castle. Construído em 1603 foi a residência do primeiro shogun.
Tem também o Ginkakuji, conhecido como Pavilhão de Prata, uma mansão do século 15; o Kyoto Imperial Palace que abrigou até 1868 a família real; e o templo Chion-In, com seu grande sino.
Quem quiser comprar souvenires mais requintados, pode ir ao Kyoto Handcraft Center. Os produtos são de excelente qualidade, mas os preços proporcionalmente altos.
Algo que infelizmente não tive tempo de visitar em nenhuma das duas viagens, mas dizem ser interessante é o Nishiki Market, um mercado de peixes e comidas local. Parece inclusive que dá para comer por lá nas barracas.
Agora se você pretender ficar lá hospedado, recomendo e muito separar um dia para um bate-e-volta para a cidade vizinha de Nara.
Menor e ainda mais tranquila que Kyoto, as principais atrações da cidade são o Nara Park e o Todaji Temple.
Criado em 1880, no parque que leva o nome da cidade, além de vários templos e santuários, vocês encontrarão os típicos cervos que vagam livremente por todo o local. No passado tidos como sagrados, estes belos e amistosos animais são muito receptivos aos turistas – só não vacile com algo de comer nas mãos, senão…
Quem quiser alimentá-los de forma apropriada deve adquirir os biscoitos especiais preparados e vendidos nas bancas ali existentes.
Dentro ainda do parque, não deixe de visitar o Todaji Temple, um dos mais importantes templos budistas do Japão.
No interior do enorme pavilhão construído em 752, está o Daibutsu, a maior estátua de Buda de bronze do Japão, com 15m de altura. O interessante é que a estrutura que se vê atualmente não é a original, pois esta foi queimada em incêndios – a atual tem “apenas” 1/3 da original.
Outro templo importante do parque é o Kasuga Grand Shrine. Construído em 768, este templo xintoísta é famoso por suas lanternas que são iluminadas durante alguns festivais religiosos.
O parque fica a apenas 45 minutos de caminhada a partir da estação central. O acesso ao templo custa 800 ienes e está aberto das 8h00 às 16h30 de novembro a fevereiro; até as 17 no mês de março; das 7h30 às 17h30 de abril a setembro; e das 7h30 às 17h00 no mês de outubro. Como sempre, confira no link oficial os horários vigentes.
Fica então a dica, seja num bate-e-volta ou numa estadia propriamente dita, uma vez no Japão; não deixe de visitar Kyoto (e se possível Nara), vocês vão se surpreender!
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