Viajar é mais do que colecionar souvenires, estampar carimbos no passaporte ou selfies em lugares, é colecionar memórias de viagem.
Já diziam os populares que o que se leva desta vida é o que se vive. Longe de querer parecer saudosista, sempre tive um enorme apreço pelas minhas memórias, sejam elas da vida ou as memórias de viagem.
Elas são parte do que somos, são a única coisa que é realmente nossa e ninguém tira.
Tem uma música dos Beatles que me toca muito neste ponto ao falar tanto sobre lugares quanto pessoas:
“There are places I’ll remember
All my life though some have changed
Some forever, not for better
Some have gone and some remain
All these places have their moments
With lovers and friends I still can recall
Some are dead and some are living
In my life I’ve loved them all…”
O que talvez torne as nossas memórias, e aqui em especial as memórias de viagem, tão especiais é o fato de que elas são únicas, cada pessoa tem a sua.
Hoje em dia, onde com as pessoas tentando mais intensamente replicar as fotos e experiências vividas por influencers e outras pessoas nas redes sociais, as memórias de viagem parecem algo meio que deixado de lado pelas pessoas no momento presente ou no planejamento da viagem.
As pessoas ficam tão preocupadas em ir e ver o que Fulano viu, que não se preocupa em ter a suas próprias experiências.
Não estou dizendo que você não deva se inspirar em que você curta, ou ter vontades semelhantes à outras pessoas. Não é sobre isso. Apenas se lembre de ter as suas próprias experiências e consequentemente as suas próprias memórias de viagem.
Você pode até imitar a foto que alguém tirou, por exemplo na Torre Eiffel, mas nunca conseguirá reproduzir as sensações que ela teve ali. Ainda bem!!! Já pensou que chato seria se todos sentíssemos as mesmas coisas? Aff, já nos bastam as redes sociais que cada dia mais pasteurizam o conteúdo…
O caráter pessoal das memórias de viagem é tão acentuado que mesmo entre pessoas que viajam juntas e que portanto experimentam fisicamente as mesmas sensações, as lembranças são diversas.
Você pode viajar a vida inteira com seus companheiros de viagem e compartilhar muitas delas. Mas as sensações e os sentimentos sempre serão individuais e únicos.
Aqui em casa, a Sra. Cumbicona tem coisas de viagem que só ela sentiu e curtiu, por exemplo.
Uma das formas mais comuns de preservar as nossas memórias de viagem são as fotografias.
Talvez tenha sido esta minha paixão pelas memórias de viagem e o consequente medo de esquecer algumas que me levou à fotografia. Sim, sou daqueles que ainda tira fotos simplesmente para guardar enquanto muita gente só tira fotos para postar nas redes sociais.
Acredito sim que paixão por viajar deve alimentar nossos sentimentos e lembranças e não apenas o feed das nossas redes sociais.
Mas para além das fotos, há também aquelas coisas e histórias que não estão registradas em fotografias.
Dias destes me dei conta de que um hábito que tenho me rende bons registros. Veja só como algo simples pode ser poderoso em termos de memórias de viagem.
Justamente para poder depois escrever os textos aqui no site, eu acabo fazendo várias notas de audio sobre o momento. Coisas simples, como que prato comemos em tal restaurante; se o procedimento na imigração foi tranquilo; ou qualquer outra coisa que tenha que ser rápido e o mais original possível (sim, porque o tempo suaviza as coisas).
São centenas de notas de audio no final de uma viagem.
Nelas já achei pérolas, como por exemplo, o Cumbiquinho com 3 anos cantando Rock and Roll All Night no caminho de volta para o hotel no Laos; ou alguma música de fundo tocada por um artista de rua; ou até mesmo o barulho dos sinais para deficientes auditivos nos semáforos de Hong-Kong.
São pequenos trechos de audio que servem como gatilhos que nos levam de volta para aquele momento mágico.
Nós aqui em casa temos o hábito às vezes de sentar para tomar um café num final de semana e relembrar juntos algumas coisas, e é claro que inevitavelmente o tema viagem vem à tona. É mais do que um momento de saudosismo, é meio que um momento de reacender aquela chama cheia de boas sensações, ou até mesmo de perrengues de viagem.
Particularmente para mim, mais uma forma de cultivar estas memórias é esta aqui onde você está. Sim, o blog também é para mim uma forma de manter, cultivar e porque não, compartilhar estas memórias.
Cada linha, cada texto tem e muito, não só aquilo que vi e viajei, mas também o que senti.
Dizem que esta é a magia dos blogs que, por exemplo, uma revista de viagem (ainda existe isso? 😂😂😂) nunca terá.
O mais interessante é que as memórias de viagem mais vívidas na mente muitas vezes são coisas, sejam lugares ou acontecimentos que sequer temos um registro em vídeo ou foto.
Dias destes estava lembrando de algumas destas, notadamente algumas das mais antigas e aparentemente simplórias, mas cheias de bons sentimentos.
Lembro das minhas primeiras viagens de carro, quando meu pai permitia que eu pegasse um pequeno pedaço de papelão e amarrando um barbante, jogasse pela janela… Era como empinar uma pipa enquanto o carro viajava pela estrada. Hoje certamente isso daria uma bela multa.
O bacana é que tem coisas que ficam na mente e voltam do nada. Quantas vezes já me vi andando em uma rua, que nem sei o nome no meio de Bangkok. Ou o cheiro da água em Guarapari. Lembrar da primeira vez que experimentei Halls viajando no porta malas da Parati dos meus pais (sim, coisas da década de 80!).
O fato é que para serem doces na memória, não precisamos ter memórias de um jantar 5 estrelas na Torre Eiffel. Às vezes algo muito mais simples pode nos ser sentimentalmente mais valiosas.
E não se pense que apenas adultos têm memórias de viagem vívidas e queridas.
Os pequenos também.
Dias destes eu estava desafiando o meu pequeno a um exercício de lembrar das memórias de viagem.
Fomos meio que voltando aos poucos, viagem a viagem, ano a ano.
Fiquei surpreso não só com a quantidade de coisas que ele lembra como a relevância que ele dá, que encaixa perfeitamente com o que eu disse sobre o valor das coisas. Prova de que criança pequena também aproveita a viagem!
Por exemplo, ele lembra muito mais de brincar numa praça com água no Vietnã do que de um hotel chique que ficamos em algum lugar. É a prova de que vivenciar e se divertir é mais importante do que o valor financeiro das coisas.
Notamos que ele lembrou de coisas de quando ele tinha apenas 3 anos e que sequer temos fotos.
Confesso que fiquei mega feliz. Sabe aquele sentimento de que a minha missão de trazer boas lembranças para ele está sendo cumprido? É mais ou menos por ai.
Ah, já ia eu esquecendo de contar qual a minha memória de viagem mais preciosa…
Não, não é um monumento fantástico ou alguma super atração. É algo que só tem significado para mim.
Como já contei uma vez, moramos no Japão quando eu era muito pequeno, e portanto não me lembro de nada.
E vivi praticamente 25 anos com meus pais fazendo aquele exercício de relembrar causos e rever milhares de vezes as fotos desta experiência. E eu, literalmente boiando.
Até que um dia meu pai fez uma proposta irrecusável: vamos voltar para um giro de alguns dias no Japão? Rever (para mim seria ver de verdade!) alguns lugares que visitamos lá nos idos de 1980?
Bem, foi uma das viagens mais marcantes que já fiz, cheia se sentimentos incríveis. Mas o mais impactante foi visitar o apartamento onde moramos por 6 meses em Yokohama.
Estar ali, depois de tantos anos, no parquinho onde eu brincava, e finalmente poder meio que me reencontrar com as minhas primeiras memórias de viagem foi simplesmente inesquecível, algo que as fotos não conseguem refletir.
O que fica de uma viagem para você? Quais são as duas memórias de viagem mais queridas?
1 comentário
Ótimo post!. Para comentar tão bom script adapto aqui como comentário uma frase do General-Imperador Romano Julio Cesar que viajou muito expandindo o império e misturando conhecimentos dos vários locais, seria algo assim: Vim, Vi e Senti!