Ao programar uma viagem para o Canadá, por favor, separe alguns dias para conhecer a região das Montanhas Rochosas. Por mais que as cidades canadenses sejam interessantíssimas, simplesmente não deixe de conhecer esta que é uma das regiões não só mais bonitas do Canadá como de toda a América do Norte. Ouso ir além: as Montanhas Rochosas e as paisagens da região são “O Canadá”!!!
Digo isso porque mesmo tendo cidades incríveis e nas quais eu moraria fácil (se não fosse o frio, é verdade), como elas existem outras relativamente semelhantes, seja nos EUA seja na Europa.
Agora aquelas paisagens com lagos azuis que dói, emoldurados por densa vegetação, montanhas ao fundo e uma riquíssima via selvagem, só mesmo nesta que é talvez a mais típica região do Canadá. Portanto não a deixe as Montanhas Rochosas fora do seu roteiro de viagem ao país.
Mas onde fica isso? A região conhecida como The Rocky, ou Montanhas Rochosas fica mais perto da costa oeste do Canadá, dividindo os Estados de British Columbia e Alberta com nada menos que quatro parques florestais: Banff, Yoho, Kootenay e Jasper.
A região das Montanhas Rochosas é o destino de viagem de nada menos que 5 milhões de turistas todo ano. Apenas para que você tenha uma ideia, isso é praticamente a mesma quantidade de turistas que o Brasil recebe anualmente (6 milhões).
O lugar é uma ode à natureza com lagos de água azul claro, montanhas que ficam com o seu topo o ano todo coberto de neve, e muita, mas muita vida selvagem.
No verão atividades como passeios de montain bike, rafting, canoagem ou simplesmente caminhadas pelas florestas fazem com que a procura por hotéis ou motor-homes na região dispare. Parece que o Canadá inteiro e mais uma parte dos vizinhos norte-americanos corre para lá. E não pense que no inverno a coisa muda muito não, pois a quantidade de atividades na neve como ski e snowboard é enorme.
Lembram que eu disse lá no primeiro post que o Canadá tem duas temporadas? A de inverno e a de verão? Isto fica muito claro nesta região do país. Quando então é melhor, sob este ponto de vista, para uma viagem às Montanhas Rochosas? Na primavera ou no outono.
Como conhecer as Montanhas Rochosas: transporte e rotas
Talvez a primeira coisa que você precisa considerar para uma viagem pela região das Montanhas Rochosas é como pretende percorre-la e a partir de onde.
A primeira questão resume-se à duas opções: ir de carro e hospedar-se em hotéis nos principais pontos de parada; ou motor-home e parar praticamente onde quiser para pernoitar.
No nosso caso, optamos por ir de motor-home, para uma experiência mais autêntica. Se você está na dúvida de qual a melhor opção, confira o nosso post sobre como viajar de motor-home pelo Canadá.
O segundo ponto é qual rota seguir.
Justamente para poder cobrir a maior parte das atrações, as pessoas costumam fazer o trecho de Vancouver à Calgary, ou o inverso, o que descobri mais tarde ser o mais barato, já que o imposto de locação do motor-home em Calgary é menor que em Vancouver.
Como nem tudo são desvantagens, dizem que a rota que segui (Calgary-Vancouver) é mais vazia, estávamos meio que no contra-fluxo.
No final de muita pesquisa, o nosso roteiro de viagem pelas Montanhas Rochosas ficou assim: Vancouver – Kamloops (via Hope) – Jasper (2 dias) – Lake Louise (2 dias) – Banff (2 dias) – Calgary, somando 7 noites de motor-home e 8 dias inteiros para percorrer 1.200km.
Olhando assim, pode parecer que é uma quantidade de dias grande, mas depois de realizar a viagem e olhando a quantidade e qualidade das atrações, achei que daria fácil para acrescentar uns dois ou três dias para curtir com menos correria.
Não pretendo de forma alguma que você faça o roteiro na correria, mas as distâncias e tempos médios de viagem pelas Montanhas Rochosas, calculados pelo Google Maps (portanto some uma sobra para paradas e limites de velocidade), são os seguintes:
Vancouver – Kamloops = 4hs / 354km
Kamloops – Jasper = 5hs / 441km
Jasper – Lake Louise = 3hs / 232km
Lake Louise – Banff = 50min. / 43km
Banff – Calgary = 1h30 / 125km
Claro que você não pode contar este tempo como sendo o real, já que certamente você irá parar várias (mesmo, tô falando sério!) para apreciar as vistas e fotografar. É inevitável e muito, mas muito legal fazer isso, afinal é viagem, não maratona.
Pelos números acima você já notou que o trecho mais pesado em termos de volante é até Jasper, o que também coincide com o único que eu chamaria de sem graça, já que não tem grandes atrativos.
Fazer então tudo em um dia só? Acho complicado, exceto se você tiver mais gente no carro para dirigir em turnos.
Aqui em casa nem cogitamos isso porque é sempre bom ter alguém fazendo companhia enquanto o outro dirige, para conversar, jogar água na cara ou qualquer outra coisa que impeça de dormir! 🙂
As estradas são muito bem conservadas e sinalizadas. No trecho de Vancouver à Kamloops, viaja-se por uma estrada de quatro pistas na qual, respeitados os limites de velocidade, você consegue desenvolver um bom ritmo de viagem. Já de Kamloops em diante a estrada vai ficando mais estreita e o seu ritmo obrigatoriamente tem que diminuir.
Um alerta: tenha em mente que ao cruzar as fronteiras das províncias de Columbia Britânica e Alberta (onde ficam os parques de Jasper e Banff), você também estará cruzando um fuso horário. Ou seja, entre estas províncias há uma diferença de 1 hora.
Para ser bem prático: se você vai de Vancouver para Calgary, “perde” uma hora, e no sentido contrário, “ganha” uma hora. Para nós pode parecer estranho cruzar fusos horários em uma viagem terrestre, mas é importante que você fique atento pois pode ter seu plano de viagem (check-ins; horários de atrações; e etc.) afetado.
E já que falei de horário, uma dica que acho importante é que nesta viagem, acordar cedo faz toda a diferença. Imagino que se você é do tipo que aproveita férias para dormir até mais tarde deva estar torcendo o nariz neste momento.
Dormir é uma delícia sim, mas acontece que nesta viagem, quanto mais cedo você pegar a estrada e chegar às atrações, maiores serão as suas chances de evitar multidões, encontar mais facilmente vaga para estacionar e até mesmo aumentar as suas chances de avistar animais selvagens.
Então, se puder, deixe para dormir quando a viagem acabar! 😂.
Vida selvagem nas Montanhas Rochosas
De alces e cervos às cabras brancas, de águias à ursos, há muito o que apreciar em termos de vida selvagem nesta região do Canadá.
É verdade que todo mundo quer ver aquela família de urso com a mamãe urso e seus dois ursinhos passeando. Se puder registrar o momento em uma bela foto, perfeito.
Mas na linha de expectativas são uma coisa, e realidade outra. Não fique frustrado se isso não acontecer. Você certamente verá algum animal interessante durante a sua viagem, mas confesso que ver um urso já é algo não tão comum quanto muitos gostariam.
Avistamentos acontecem sim, mas eles são animais bem furtivos – em alguns casos, para a nossa sorte inclusive.
Tenha em mente que onde tem muita gente, dificilmente você verá muita vida selvagem. Exceto animais mais amistosos, a tendência deles sempre será evitar o contato conosco. Lembre-se não são pets, são animais selvagens.
Andando pela região você verá muitas placas indicando o risco de ursos, especialmente nas trilhas.
Nesta região do Canadá vivem dois tipos de ursos, os Grizzly Bears e os Black Bears. Os primeiros, conhecidos como ursos pardos são enormes e representam um risco de fato; já os segundos, os negros, são bem menores e não representam tanto risco assim.
O problema é que o pardo pode ser negro, e o negro também tem pelagem marrom. Ai zoa tudo. Dizem que uma forma de identificar um pardo é pela sua corcunda e focinho como o labrador. Ah tá que vou ficar ali olhando o formato do focinho ou esperando ele andar para me mandar dali!!!
Só para dar uma ideia, os pardos podem atingir até 3m de altura e as suas patas são maiores que uma raquete de tênis, com garras enormes. Eles se alimentam de tudo um pouco, mas principalmente de peixes e frutas.
Mas o que fazer se você encontrar um urso? Primeira coisa: se estiver a uma distância segura, tire uma bela foto e compartilhe. 😂
Brincadeiras à parte, você não precisa morrer de medo, mas não é bom dar moleza porque encontros muito próximos não costumam terminar bem. Não quero colocar medo em ninguém, mas preciso ser realista.
Nas trilhas, sempre siga as indicações e eventuais alertas de ursos (às vezes eles fecham as trilhas por segurança). Nunca ande sozinho por lugar nenhum, ao verem um grupo unido, o urso pensa que é um animal só. Acho que achei mais uma utilidade para o upa-upa cavalinho. Tente sempre fazer algum barulho: bater palmas, cantar, sei lá, pague de loco mesmo. Quem viaja com crianças é hora de resgatar aquelas músicas chicletes da Galinha Pintadinha ou simplesmente deixar os pequenos tagarelas soltarem a matraca.
Se avistar um urso. Duas opções. Se ele não te viu, faça silêncio, aprecie, fotografe e vaze dali, literalmente, mas sem correr. Se ele te viu, não corra (ei sei que o instinto é esse, mas ele é mais rápido que você – até 40km/h); faça o máximo de barulho possível; levante os braços para parecer maior como disse acima (se estiver em grupo fiquem juntos); afaste-se sem dar as costas para o urso.
Li relatos de que em algumas trilhas as pessoas usam bear bells, ou sinos para afugentar os ursos. Existem também sprays de pimenta – quero só ver quem vai chegar perto do focinho para espirrar.
Mas e aquela história de fingir de morto? Hummm, acho que é melhor não ficar treinando isso não. Alguns dão esta dica: deite de costas, com uma mochila preferencialmente e finja de morto. Sei não….
Se avistar ursos é o seu objetivo, uma época mais propícia é entre junho e setembro quando eles saem para a colheira das berries, aquelas frutinhas vermelhas que eles adoram. Tanto que em alguns pontos dos parques, como por exemplo em Lake Moraine, a administração do parque não recomenda que trilhas sejam feitas por grupos menores que 4 pessoas.
Uma regra muito importante sobre os ursos, especialmente para quem for acampar ou usar um motor-home, é não deixar lixo nenhum à mostra. Lixo é nos recipientes próprios para isso no parque porque os ursos muitas vezes vem atrás do lixo por conta do cheiro.
Outros animais super comuns lá são os cervos e alces (moose) com aquela cara que mais parece uma caricatura de pernas longas e finas. Espere também avistar águias pelo caminho – sua envergadura pode passar de 2m.
Por mais que você ache que os alces são inofensivos, não caia nesta. Eles podem sim atacar, especialmente fêmeas com crias. Na dúvida mantenha distância.
Sobre a observação da vida selvagem, o importante é ter paciência e um olhar atento.
Se nas estradas ver alguns carros parados, é porque alguém avistou algum animal. A recomendação é que você ao menos reduza a velocidade para não correr o risco de atropelar algum animal; e se quiser parar para ver o que está acontecendo, não tem problema, só não saia do carro sozinho primeiro para não colocar a sua vida em risco, segundo para não tomar multa, sim, os guardas florestais dependendo da situação podem multar as pessoas. Para tirar fotos, lembre-se que a sua máquina e celular têm zoom!
Viagem com crianças pelas Montanhas Rochosas
Para quem viaja com crianças, este é um dos melhores trechos de uma viagem pelo Canadá, já que há muito o que ver (vários animais selvagens) e muitas oportunidades para brincar, já que você sempre irá encontrar um bom gramado para jogar bola e correr, playgrounds e atividades como passear da canoa, fazer trilhas e muito mais.
Com relação às trilhas, normalmente não dá para levar o carrinho de bebê, então sempre avalie a disposição do seu filho em caminhar versus a distância e dificuldade da trilha. Nos próximos posts, só indiquei trilhas que são factíveis para os pequenos viajantes nos acompanharem, ok?
Se você optar por viajar com um motor-home neste trecho das Montanhas Rochosas, o próprio veículo faz a alegria dos pequenos viajantes, já que eles amam.
Apenas capriche em alguns itens para os pequenos viajantes, tais como repelentes para os mosquitos constantes na região; garrafa de água; uma jaqueta a prova de vento / chuva se viajar nos meses mais chuvosos ou frios; e se possível, uma bota ou um daqueles tênis a prova d’ água para poder brincar à vontade.
Parques florestais nas Montanhas Rochosas
Antes de falarmos dos parques separadamente, coisa que farei nos próximos posts da série, é importante você saber que precisará de um ingresso para visitá-los.
Sim, isso mesmo. Para circular pelos parques de Jasper, Banff e região de Lake Louise você precisa pagar uma taxa por dia, que na data da nossa visita estava em CAD 9,80/4,90/19,60 adulto/criança/família por dia – criança menor de 6 anos não paga e família são até 7 pessoas no mesmo veículo. Não deixe de conferir o valor atualizado para a data da sua visita.
Se você for passar mais de 7 dias, melhor comprar o passe anual que dá direito a algumas atrações a mais, e custa CAD 67,70/33,30/136,40 adulto/criança/família.
O ingresso pode ser comprado tanto online quanto presencialmente ao entrar em um dos parques.Se optar por comprar lá, deve-se pegar uma fila na entrada do parque em uma das cabines, tipo aquelas de pedágio. Comprou online? Basta colocar a tag pendurada no retrovisor e seguir direto. O controle de quem pagou ou não é feito por esta tag, então não esqueça de deixar ela sempre visível no carro ou motor-home.
* O Cumbicão fez esta viagem ao Canadá mediante uma parceria estabelecida junto ao Board de Turismo Local para coletar material para esta série de posts. Todas as opiniões e relatos aqui descritos refletem fielmente a experiência, atendendo à política do blog.