Uma viagem ao Egito é essencialmente uma viagem pela história de uma das mais intrigantes civilizações que já existiram, onde as atrações invariavelmente envolvem uma combinação super típica de pirâmides, tumbas e templos. Já falamos bastante destes temas nos posts anteriores, mas faltou comentarmos alguns pontos interessantes sobre religião no Antigo Egito e porque eles mumificavam as pessoas.
Vai por mim, viajar para lá entendendo um pouco mais de como as coisas funcionavam naqueles tempos tão remotos fará você ter uma outra percepção da viagem, muito mais rica.
Certamente você terá a certeza de que o Egito daqueles tempos em nada se assemelha ao que se vê hoje lá nas ruas.
Hoje quem anda pelas ruas do Egito nem imagina o quanto a religião no Antigo Egito era diferente do que se vê hoje por ali.
Isto porque o Egito é um país majoritariamente muçulmano.
Mas qual o motivo disso? A religião, e também outros fatores como idioma e hábitos que hoje a gente vê nas ruas das cidades egípcias são na verdade resultado da dominação árabe que estabeleceu-se a partir de 640 quando o árabes partindo da Península Arábica dominaram toda a região.
Mas os romanos não haviam muito antes disso dominado o Egito?
Sim, mas ainda em alguma medida alguns hábitos e traços culturais do Egito perduraram durante o domínio de Roma que permitia até certo ponto a manutenção de alguns traços culturais como forma de manter a dominação e evitar-se revoltas locais.
A coisa mudou mesmo foi com a chegada dos árabes que estabeleceram um domínio mais rígido.
A dominação foi tão forte que por pouco o passado glorioso dos antigos egípcios não foi varrido do mapa. Tanto que eles usaram a cobertura lisa das pirâmides para fazer algumas partes da Mesquita de Mohamed Ali.
Em verdade, o que sabemos hoje é muito por conta do fato dos antigos egípcios terem registrado muito bem a sua história e muita coisa ter sido literalmente engolida pela areia do deserto protegendo assim os registros.
Os antigos egípcios eram politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses. Cada um tinha o seu templo e as cidades elegiam o seu deus protetor.
Guardadas as devidas proporções, havia uma certa semelhança com a mitologia grega, já que cada deus servia para uma coisa e para isso controlava a natureza influenciando nos seus elementos.
Alguns deles poderiam ter aparência totalmente humana, outros eram um misto de animais e seres humanos:
– Rá-Atum: responsável pela criação do mundo é representado pelo Sol ou também com a face de uma ave de rapina. Acreditava-se que o faraó era a encarnação de Rá.
– Osíris: filho de Rá, teria sido o primeiro faraó do Egito.
– Ísis: deusa da proteção e da magia.
– Set: deus do caos e das guerras e por toda a escuridão.
– Hórus: com cabeça de falcão, é o protetor dos faraós.
– Anúbis: com cabeça de chacal é responsável pela mumificação.
– Thoth: deus da cura e da sabedoria.
– Bastet: deusa da fertilidade e protetora das mulheres, tem cabeça de gato e corpo humano
Por conta desta representação mista de muitos deuses, alguns animais eram sagrados no Egito, como por exemplo boi – Osíris; cachorro e bode – Seth; carneiro – Knum; chacal – Anúbis; crocrodilo – Sebek; falcão – Rá ou Hórus.
Quem conhece um pouco de islamismo, onde representações do profeta e de outras figuras importantes são proibidas pode imaginar qual era a opinião sobre estes deuses egípcios…
Seja por conta das pirâmides ou das tumbas do Vale dos Reis, ou ainda do Museu do Cairo, você irá topar com o assunto múmia várias vezes durante a sua viagem.
E como você pode imaginar elas não têm nada de místico ou coisa assim. Muito pelo contrário, elas representam um importante traço da religião no Antigo Egito, e por isso mesmo o assunto deve ser tratado com respeito.
Aliás, uma primeira coisa é preciso dizer, mumificação não é algo exclusivo do Egito, outras culturas praticaram processos de mumificação, ainda que de formas diversas. Mas certamente os antigos egípcios foram os primeiros a fazer isso e com maestria.
Mas porque os antigos egípcios se empenharam tanto em preservar o corpo após a morte em um processo extremamente complexo, cheio de simbologia e rituais?
Os egípcios acreditavam que depois desta vida, haveria uma outra, chamada de segunda vida. Logo, prevalecia uma crença generalizada na reencarnação.
Talvez o mais interessante tenha sido como os egípcios antigos chegaram nesta conclusão. Observando que o Sol nasce e “morre” em ciclos e o próprio Nilo tem cheias e secas, acreditaram que o mesmo poderia ser aplicável aos humanos.
Esta segunda vida seria uma vida perfeita e sem dificuldades. Nela, por exemplo, as frutas não precisariam ser colhidas e seriam sempre saborosas; o vinho não seria capaz de embebedar as pessoas e por ai vai.
Mas e o corpo? Eles acreditavam que o corpo seria sim necessário nesta nova etapa. E por isso se o corpo estivesse bem preservado, a alma iria ter condições de reconhecer ele e reencarnar nesta segunda vida.
E como eles faziam a mumificação?
Talvez a base do processo de mumificação tenha sido descoberto por sorte, ou melhor, por observação do ambiente. Acredita-se que eles tenham iniciado nesta arte (sim, porque é complexo e cheio de detalhes), observando os corpos que eram enterrados no deserto e que pelas condições secas do clima, acabavam sendo mais preservados que o esperado.
Tanto que qualquer um poderia passar pelo processo de mumificação, desfazendo-se a ideia de que isso seria exclusivo aos faraós. Nobres e outras pessoas com posses poderiam ser mumificadas, bastando pagar.
Existiam inclusive “pacotes” mais simples ou mais complexos para o procedimento.
Mas como era ao final este processo?
Após a morte, o corpo era transportado para um local próprio para a mumificação. Ele era colocado em uma cama de ouro e uma série de preces eram feitas durante todo o procedimento.
Observando a natureza humana os egípcios perceberam que o processo de decomposição do corpo iniciava-se de dentro para fora. Mais precisamente a partir dos órgãos vitais.
Então por volta de 2600 a.C. eles aprimoraram o processo e começaram a fazer uma incisão no lado esquerdo do corpo para remover alguns órgãos como pulmão, estômago, intestino, e rins. O coração porque seria útil na segunda vida.
No começo o cérebro era mantido no lugar, mas depois de um tempo resolveram que seria melhor retirar ele utilizando uma espécie de colher pelo nariz. Ai, dói só de pensar.
Com o corpo “limpo” e os órgãos separados, tudo era coberto de sal especial (de natrão) por uns 70 dias para desidratar. Finalizado esta etapa, passava-se à aplicação de óleos, especiarias e resinas que tinham como objetivo a preservação.
Os órgãos eram colocados em jarros e o corpo coberto com linho juntamente com alguns amuletos estrategicamente posicionados pelo sacerdote local que fazia preces para garantir que o faraó teria a proteção necessária e reincarnaria na segunda vida.
Um dos itens que eram colocados junto da múmia era a tal chave da vida, que muitos dizem parecer com uma cruz. Tanto que também é conhecida como cruz ankh (ansata). E a sua função seria garantir proteção e o retorno à vida eterna.
Quando se fala de mumificação, muito se comenta a respeito do tal Livro dos Mortos. Falando assim pode parecer algo macabro, mas se você pensar que o nome dele em egípcio antigo significava algo como “saída para a luz do dia”, a coisa muda completamente.
O Livro dos Mortos na verdade é um misto de ensinamentos para a vida e de outro lado feitiços, orações e fórmulas mágicas que eram utilizados durante o processo de mumificação. Normalmente trechos dele eram transcritos para papiros para serem colocados no sarcófago ou eram feitas inscrições neste para que a múmia pudesse ter instruções para a segunda vida.
Praticamente um manual de instruções!
E para desmistificar de vez a pecha macabra do Livro dos Mortos veja só isso: a sua ideia central era mostrar que diante do julgamento feito pós morte.
Em termos de princípios o Livro dos Mortos traz o respeito à verdade e à justiça, mostrando o elevado ideal da sociedade egípcia. Era crença geral que diante da deusa Maat (a deusa da verdade e da justiça, frequentemente representada com asas azuis diante de uma balança), a sua vida terrena seria julgada não pelo que você tem, mas sim pelo que você fez de bom.
Já era um embrião da lei do Karma ou da ação e reação. Ah, estes egípcios!!! Realmente não eram daqui não!
E você? Que curiosidade já ouviu sobre o Antigo Egito? Conta ai para a gente!
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