Santiago de Compostela

Santiago de Compostela para não peregrinos. Vale a pena?

Experimente dizer para algum conhecido que você vai para Santiago de Compostela. Muito provavelmente ele irá dizer algo como: nossa, então você vai fazer o Caminho de Santiago! É fato, Santiago de Compostela e peregrinação são praticamente sinônimos no dicionário de viagem. Mas saiba que mesmo para aqueles que não estão dispostos a fazer tal peregrinação, a cidade guarda boas surpresas e merece estar no seu roteiro pelo norte da Espanha.

É bem verdade que para quem se dispõe a encarar os intermináveis quilômetros da peregrinação a cidade, como ponto final da peregrinação tem um encanto ainda maior.

Já indico aqui, para você que quiser fazer o caminho ou pelo menos se inspirar, dois blogs com  informações essenciais para a sua peregrinação: o Bagagem de Memórias da Patrícia e o Viagens Por Ai  da Quênia.

Eu mesmo fiquei pensando se deveria ir já ou se seria melhor guardar o destino para ser o ponto final se um dia eu resolver fazer o Caminho de Santiago de Compostela…

Mas como já estávamos no norte de Portugal e tínhamos alguns dias sobrando no nosso roteiro, achei que valia a pena dirigir mais um pouco até a cidade mais famosa da Galícia. Bastaram 2h30 do Porto para chegarmos à Santiago de Compostela.

Esta viagem de carro ficou ainda mais fácil porque mesmo que você tenha alugado o carro em Portugal, não existe qualquer impedimento em cruzar a fronteira para a Espanha. Aliás, se você não prestar a atenção nas placas na estrada, nem irá perceber que trocou de país.

Com algumas poucas horas de estrada (excelente!) estávamos em um novo destino.

Santiago de Compostela é a capital da Galícia, a Comunidade Autônoma mais a oeste da Espanha.

Para quem não sabe, a Espanha é dividida em 17 Comunidades Autônomas (mais ou menos o equivalente a estados no Brasil), e não é só a Catalunha e o País Basco que têm grandes diferenças em relação às demais comunidades. A Galícia, que representa boa parte da região noroeste do país, também tem diferenças significativas em relação às demais.

A mais notável para nós turistas é o idioma. Claro que lá eles falam sim o espanhol, mas há um outro idioma que é mais comum entre os locais, o galego. Se você ouvir eles falando ou ler as placas, verá que é um idioma bem mais parecido com o português do que o espanhol.

A cidade tem pouco menos que 80 mil habitantes, mas por conta do fato de ser o destino final dos peregrinos, recebe nada menos do que 200 mil turistas ao ano.

A história de Santiago de Compostela é bastante interessante.

A cidade nunca chegou a ser invadida pelos muçulmanos que dominaram praticamente toda a península Ibérica entre 711 e 1492 (justamente o marco do fim da Idade Média), sendo junto com algumas outras poucas cidades do norte, um importante foco da resistência europeia.

Depois de terem encontrado o túmulo de Santiago, todos os caminhos iam à cidade.

Isso já bastaria para a cidade ter uma importância histórica considerável. Mas acontece que segundo a tradição católica, teria ali sido encontrado em 814 o túmulo do apóstolo Tiago.

Ele teria difundido o cristianismo na península Ibérica entre 36 e 40 até ser decapitado quando retornou à Palestina em 44. Segundo a tradição, seu corpo levado para ser enterrado na região.

Depois disso a famosa catedral foi erguida, e meio que no boca-a-boca, a peregrinação passou a ser realizada pelos fiéis por séculos.

Antes de falarmos das atrações da cidade, vale mencionar algumas dicas rápidas:

Quanto tempo?

Santiago é uma cidade relativamente pequena e para facilitar ainda mais, praticamente tudo está situado no centro velho.

Na prática, nós precisamos de apenas um dia inteiro para conhecer as atrações aqui listadas e mais um meio período para fazer o passeio até a vizinha Finisterra.

Mais tempo que isso, acho que só se você tiver algum interesse especial na região.

Como se locomover em Santiago de Compostela

Estando assim tudo tão perto, usar o carro em Santiago de Compostela somente deve ser opção para quem ficar hospedado realmente mais distante ou fora do centro velho.

Como tudo é perto, não faz o menor sentido ir de uma atração para a outra de carro. Ademais, toda a zona central da cidade é proibida para carros, sendo que quando muito apenas moradores têm autorização para adentrar com seus veículos ali.

Pelas ruas, praticamente não se vê carros.

Talvez, assim como nós você esteja chegando à cidade de carro e portanto precise estacionar em algum lugar. No mapa eu deixei marcado alguns estacionamentos próximos ao centro nos quais você vai gastar entre €20-30 por diária.

Um pouco caro sim, mas a vantagem é que são lugares seguros.

Quando ir?

Olhando exclusivamente a média de temperatura e chuvas ao longo do ano, como sempre faço no Holiday Weather, eu lhes diria para simplesmente fugir do final-começo do ano.

O motivo disso é que nesta época do ano as temperaturas são menores, o que até dá para encarar numa boa, mas infelizmente as chuvas são abundantes.

Acontece que nós tivemos uma enorme sorte com dias claros e praticamente sem nuvens em toda esta região da Europa justamente no mês de janeiro. Pura sorte porque ali chove simplesmente o dobro do que chove nas outras regiões da Espanha!

Dias de céu azul e frio em Santiago de Compostela.
Chocolate quente com churros para esquentar 😋

O normal é que a estação mais seca seja justamente o contrário, o meio do ano que representa o verão.

O ponto negativo é que neste período a cidade está mais cheia tanto pelos turistas quanto pelos peregrinos que querem fugir do inverno nas suas andanças.

Onde se hospedar?

Como tínhamos pouco tempo, optamos por um hotel super bem localizado mas não menos charmoso, o Smart Boutique Hotel Literario San Bieito, que fica literalmente no coração antigo de Santiago de Compostela, logo perto de tudo. Em breve publico o review deste hotel.

Smart Boutique Hotel Literario San Bieito

Atrações de Santiago de Compostela

A minha sugestão é que você comece o seu passeio pelo marco zero da cidade e um dos mais tocantes, a Plaza do Obradoiro que é a praça diante da Catedral de Santiago de Compostela.

Claro que a beleza da fachada da Catedral da qual falaremos depois já é um super motivo para ir à praça. Acontece que há algo mais belo e certamente bonito de se ver ali…

Vai por mim, escolha um lugar para sentar e apreciar a emoção dos peregrinos que chegam ao final do Caminho de Santiago. É emocionante ficar ali testemunhando a vitória deles, cada um com a sua história, motivo e desafios.

Nesta praça, ficam também o Pazo de Raxoi, um palácio neoclássico do século XVIII que hoje funciona como prefeitura da cidade.

Pazo de Raxoi

Outro importante edifício é o Hostal dos Reis Católicos que foi construído como um refúgio para peregrinos ainda no século XVI pela rainha Isabel. Hoje, é um parador, um hotel de luxo.

Hostal dos Reis Católicos

Apesar destas belas construções, não tem como competir com ela… A atração mais importante da cidade, a Catedral de Santiago de Compostela.

Catedral de Santiago de Compostela.
Na fachada são tantos detalhes que a gente nem sabe para onde olha primeiro.
Não deixe de ir à praça durante a noite para ver a catedral iluminada.

Construída entre 1075 e 1211, ela mistura os estilos romântico e gótico em suas três naves.

No seu interior, muito provavelmente você verá uma fila que nasce atrás do altar. Há ali uma escada que leva até as costas da estátua de Santiago e onde os peregrinos entram para poder subir e tocar o seu manto.

Altar da Catedral de Santiago de Compostela. Note no meio de tantos adereços a estátua de Santiago.

Ali perto, outra pequena escada, agora para baixo do nível do solo, leva até uma pequena cripta que acredita-se ser o túmulo de Santiago com seus restos mortais dentro de uma caixa de prata.

Túmulo de Santiago de Compostela.
E se faça luz!
O órgão da catedral é enorme.

Uma das coisas mais interessantes para se ver na catedral é o Botafumeiro voando. Imagino que assim como eu você não tenha entendido nada ao ver esta expressão.

O Botafumeiro é um enorme incensário que literalmente pende pela igreja durante algumas missas desde o século XIII.

Botafumeiro.
Precisa de 4 homens para içar ele.
O complexo sistema de içamento e balanço.

Poxa mas para que um incensário deste tamanho??? Ok, a igreja é grande, mas precisava tanto?

Sim, precisava!!!

Reza a lenda que lá pelo século XIII os peregrinos fediam tanto depois de praticamente um mês caminhando, e muitos sem banho, que era impossível rezar a missa diante do odor na igreja.

Nem com reza brava o cecê ia embora!!!

Foi então que bolaram um sistema super complexo para a época onde roldanas não só facilitavam o levantamento como também o balanço do incensário que como dá para ver é enorme.

Eu só fiquei pensando ali do meu lugarzinho, protegido atrás de um pilar na missa, quantas vezes ele deve ter soltado… Imagina o strike??? Afinal são mais de 100kg quando cheio, 1,6m de altura, voando a 68km/h!!!

Normalmente ele voa na missa das 19h30 por conta de um acordo entre a prefeitura e o órgão de turismo local (afinal é uma atração da cidade), mas é sempre bom confirmar no site da catedral. Ele também é colocado em funcionamento quando os peregrinos fazem a vaquinha de €300 para bancar este super adereço à missa.

Uma curiosidade: o botafumeiro original de prata foi roubado por Napoleão Bonaparte.

Quem desejar, dá para fazer um tour pelo telhado da catedral ao custo de €15 e também visitar um museu lá dentro por €6 que contém itens raros e também pinturas e mobiliário.

A Catedral abre todos os dias das 7h00 às 20h30 e o acesso é gratuito.

Voltando para o lado de fora, algo que você precisa fazer é deixar-se perder pelas vielas da região, apreciar os edifícios históricos nos arredores da Catedral.

Uma das estreitas vielas de Santiago de Compostela
Praça de Cervantes.

Por ali, um edifício simplesmente maravilhoso é o Monastério de San Martin Pinario que foi construído no século X e hoje serve como seminário e arquivo histórico da diocese local.

Monastério de San Martin Pinario

Para quem quiser saber mais sobre a peregrinação, sua história e etc., vale visitar o Museo das Peregrinacións e de Santiago. Fica na rua de San Miguel 4 e abre de terça à sexta das 10h00 às 20h00; sábados das 10h30 às 13h30 e das 17h00 às 20h00; e domingo das 10h30 às 13h30.

Museo das Peregrinacións e de Santiago

Algo que infelizmente não tivemos condições de visitar porque estava fechado nos dias em que estivemos lá foi o Mercado de Abastos que é um dos melhores mercados de comida de toda a Espanha, com itens de toda a região e excelentes lugares para comer nos arredores. Fica para quando fizemos o caminho.

Finisterra

Pertinho de Santiago de Compostela fica a cidade de Finisterra.

Sem querer desmerecer a simpática cidade de pouco menos que 3 mil habitantes, a cidade em si não tem lá grandes atrativos. Peraí, para que ir até lá então?

Finisterra
Uma cidade absolutamente tranquila.

Para conhecer o lugar que os europeus da idade média acreditavam ser o Fim do Mundo, onde a Terra acaba (há também o Cabo da Roca em Portugal).

Só lembrando que naquela época, antes da Era dos Descobrimentos, as pessoas acreditavam que a terra era plana. Galera, por favor, sem piadas sobre terraplanismo 🤣.

Acho que nem preciso dizer que o nome deriva da expressão latina finis terrae, isto é “fim da terra”…

Ali a costa é extremamente perigosa, tanto que chamavam de Costa da Morte, já que pela quantidade de rochas e mar agitado, muitos navios naufragaram lá.

Justamente evitar acidentes na região, construíram ali o Farol de Finisterra cuja estrutura atual data de 1868.

As vistas a partir dali são incríveis!

Finisterre.
Não se deixe enganar pelas águas tranquilas.
Literalmente fim da linha.
Marco zero em Finisterra.
Antigamente os europeus acreditavam que o mundo acabava ali.

De quebra, antigamente, alguns peregrinos costumavam ali queimar as suas roupas meio que num ritual de fim de peregrinação depois de passar pela Catedral de Santiago de Compostela.

Outra curiosidade sobre o lugar é que da cidade até o farol, tem uma caminhada de 2,5km que é tida como uma caminhada que casais sem filhos deveriam fazer para aumentar as chances de conceberem um bebê.

No final, e considerando que estávamos ali do lado, adorei a experiência de conhecer Santiago de Compostela, e a visita serviu muito bem para plantar a sementinha de um dia fazer o caminho!

Quem sabe um dia a gente não embarca juntos nesta caminhada…
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Diogo Avila

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