Aninhada no coração dos Cárpatos, Sibiu, com toda a sua beleza e história do período medieval, foi a nossa primeira parada oficial na região Transilvânia.
Não tem como falar da Romênia sem falar da Transilvânia.
E por mais que a primeira coisa que venha a mente de todo mundo quando se fala em Transilvânia seja o Conde Drácula, ela é muito mais do que o mito local.
A Transilvânia é sem dúvidas a região mais turística e provavelmente a mais bela da Romênia, com suas florestas (nem sempre com histórias felizes como comentei noutra oportunidade) e suas belíssimas medievais cidades que parecem literalmente terem saído de um conto de fadas, com seus castelos góticos.
Se você gosta de cidades medievais e castelos, a Transilvânia é sem dúvidas um destino que você precisa colocar na sua lista de desejos de viagem na Europa.
O fato é que simplesmente não compensa ir para a Romênia e não conhecer a Transilvânia.
Esta região que hoje conhecemos como Transilvânia era habitada já no século V a.C. por um povo chamado Dácios, até que vieram os romanos que ali permaneceram quando em 271 d.C. vieram os hunos, eslavos, visigodos e outras tribos europeias e dominaram a região.
Só no século XII é que chegaram os saxões que deixaram na região os vestígios mais vistosos daquilo que se vê hoje na região: o seu ar medieval.
A Romênia mesmo só tomou a região já no final da Primeira Guerra Mundial com a queda do Império Austro-Húngaro. Mas não pense que a Hungria ainda não guarda mágoas por conta disso…
E não pense você que é fácil escolher quais cidades visitar nesta região da Romênia, já que existem muitas cidades por ali que vale a pena visitar.
Para ficar apenas nas mais famosas, cito aqui Braşov, Sibiu, Sighişoara e Bran.
Mas o que fez a Transilvânia ter tantas cidades medievais e ser tão diferente do restante do país?
Uma das respostas está no século XII quando alguns povos vindos do que hoje conhecemos como a Alemanha foram convidados para ocupar a região para conter o avanço dos turcos que começaram a dominar as regiões mais ao sul dali.
Isso explica e muito a arquitetura local.
Hoje com pouco mais de 150mil habitantes e muito bem preservada, Sibiu é uma das cidades mais importantes e turísticas da Transilvânia, fazendo junto com Brasov e Sighișoara a trinca perfeita de cidades para quem quer conhecer a região mais famosa da Romênia.
Sibiu é literalmente um tesouro medieval, com seus edifícios históricos e charmosas ruas por onde já passaram personagens famosos como Strauss, Brahms e Liszt tocaram lá durante o século XIX.
A vanguarda da cidade ia também além do aspecto cultural, pois lá se estabeleceram o primeiro hospital, escola, biblioteca e farmácia da Romênia.
Ainda hoje Sibiu mantém a sua fama de ser a capital da cena cultural e inovadora da Romênia. Tanto que já foi, juntamente com Luxemburgo, eleita a capital cultural da Europa em 2007.
Sibiu foi fundada em 1191 por colonos saxões, no local onde existia anteriormente uma antiga vila romana chamada Cibinium.
A cidade situa-se no que no passado era uma convergência de rotas comerciais da Transilvânia, meio que cruzando a região de norte a sul. Acho que nem preciso dizer quanto isso foi estratégico em termos comerciais e para o desenvolvimento da cidade, né?
Assim, ela floresceu e chegou a ter cerca de 19 guildas, algo como associações representativas de diferentes ofícios, tamanha a opulência da economia local.
Foi neste cenário que Sibiu conseguiu ser alçada ao posto de capital do Principado da Transilvânia por séculos.
A cidade era circundada por muralhas, 39 torres e quatro bastiões que a protegiam das invasões otomanas. O incrível é que este complexo todo funcionou, pois a cidade jamais foi tomada e por isso mesmo ficou conhecida como o “Bastião da Cristandade”.
Dicas práticas para conhecer Sibiu
Como costumamos fazer, antes de tratarmos das atrações em si, vamos ver algumas dicas práticas para você curtir a cidade ao máximo e otimizar seu tempo em Sibiu.
Quanto tempo em Sibiu?
Antes mesmo de falar em quantos dias em Sibiu, a nossa primeira parada oficialmente na Transilvânia, sugiro que você pense quantos dias dedicar à região como um todo e aí sim olhar especificamente para cada cidade.
Nós optamos por usar praticamente 7 dias do nosso roteiro de viagem para a Transilvânia. E mesmo assim ainda deixamos muita coisa legal de fora do roteiro.
Olhando especificamente para Sibiu, entendo que basta um dia inteiro para conhecer as atrações da cidade em si.
Se você optar por usar ela como base para outros lugares nos arredores, ai adicione ao menos mais um dia.
A ideia de usar apenas um dia em Sibiu decorre do fato de que a quantidade de atrações ali, embora de excelente qualidade, não é grande e o fato de que delas estarem situadas praticamente todas no centro histórico da cidade.
Chegando e circulando por lá
Partindo de Bucareste, Sibiu está 282km ou 4hs de carro. E olhando para o lado de Brasov, são apenas 150km ou 2hs.
Imagino que a esta altura você esteja pensando se não compensa fazer um bate-e-volta a partir de Brasov. Eu acho complicado 2hs para um bate-e-volta de carro. Já fiz sim, mas é cansativo no final do dia e só valeria em casos extremos onde não existe alternativa.
Fora que fazer um roteiro que passasse por mais cidades numa rota única fez com que economizássemos gasolina e tempo.
Para nós a alternativa era justamente usar Sibiu como a nossa porta de entrada para a Transilvânia, vindo de Pitesti pela Transfagarasan da qual falamos anteriormente.
Uma vez que você já sabe como chegar lá, saiba que para visitar as atrações de Sibiu a melhor forma de locomover-se é a pé mesmo.
Como dá para ver do mapa abaixo, as atrações estão mais concentradas na região central, o que facilita imensamente a vida do turista que visita Sibiu.
Nesta região central nem estacionamento tem. Então, nada de usar carro na cidade, deixe ele no hotel e caminhe.
Onde se hospedar?
Queriamos muito ficar perto do centro justamente para facilitar os nossos deslocamentos e otimizar o tempo.
Pensando nisso, a nossa escolha para esta viagem foi o hotel MyContinental Sibiu que atendeu super bem às nossas expectativas.
É um hotel simples, nada demais.
Porém o fato de ter diante de si um bom estacionamento com parquímetro e estar uns 5 minutos de caminhada do centro fez ele uma escolha bem interessante.
Como comentei no post inicial sobre a Romênia, nesta viagem gostamos muito mais de ficar em apartamentos reservados via Booking.com do que hotéis propriamente ditos.
Mas como em Sibiu tivemos apenas uma noite, achei que o hotel seria mais prático. Eu tenho uma tendência a achar que para estadias assim tão curtas, alugar apartamentos não seja uma boa ideia, até mesmo para o proprietário.
A experiência que detalharei em breve aqui no site.
O que tem para fazer em Sibiu?
Como vocês notarão quando falarmos das demais cidades da Transilvânia, uma das coisas mais legais neste tipo de destino é deixar-se perder, especialmente pelas ruas do centro histórico.
A maior parte das atrações de Sibiu está concentrada naquilo que poderíamos chamar de centro velho da cidade, mais especificamente nos arredores de duas praças: a Piata Mica e a Piata Mare, a praça pequena e a praça grande, respectivamente.
É nesta região que você encontrará uma série de igrejas, edifícios históricos e ruas super charmosas para você passear.
Comecemos o nosso passeio em Sibiu pelo seu ponto central, a Piața Mică (ou praça pequena), que rodeada de prédios históricos é um dos pontos mais visitados da cidade.
Ao redor dela, uma sequência incrível de lindos edifícios que datam dos séculos XIV a XVI, cada um com uma história, estilo e cor diferente, indo do gótico ao renascentista.
No passado, a Piața Mică era o palco perfeito para cavaleiros e mercadores.
Dominando a praça está o imponente Turnul Sfatului, a Torre do Conselho, que se ergue majestosamente a 70 metros de altura.
Construída no século XIV, a torre servia como ponto de observação e local de reuniões para o conselho da cidade. Hoje, abriga um museu que narra a história de Sibiu, desde suas origens medievais até os dias atuais.
Ali também está atração muito peculiar ali é o Museu Farmacêutico (Brukenthal Museum).
Num edifício com mais de 1.500 anos está instalado um museu que conta a história da fabricação de medicamentos e essências em Sibiu, com mais de 6.000 itens que vão de pílulas rudimentares, instrumentos cirúrgicos e muito mais.
Ele fica n.º 26 da Piaţa Mică; o ingresso custa 10/2,50 lei adulto/estudante; e funciona das 10hs às 18hs de terça a domingo durante os meses de abril a outubro, e de quarta e domingo no mesmo horário entre novembro e março.
Outro marco importante da Piața Mică é a Casa Artelor, que anteriormente servia como o Mercado dos Açougueiros. O edifício, com sua fachada ornamentada e arcos graciosos, agora abriga galerias de arte, cafés charmosos e lojas de souvenirs, oferecendo aos visitantes uma mistura de cultura, gastronomia e compras.
Numa das extremidades da praça fica a Ponte das Mentiras (Podul Minciunilor).
Lá vem mais uma lenda (turística) urbana. Kkkkk
Reza a lenda que quem passa por esta ponte de 1859 contando uma mentira, faz ela ranger. Não, não é o peso ou passadas grossas das pessoas que faz ela ranger… Ah, tá!
Noutra extremidade está a Pasajul Piața Aurarilor (Goldsmith’s Square Passage), uma escadaria que faz a passagem entre a Piata Mica e a Aurarilor.
É um lugar bastante interessante, já que com paralelepípedos e tijolos aparentes, é composta de uma sequência de arcos que rende belas fotos.
E por fim, ali perto fica a principal igreja gótica de Sibiu, a Catedral Evangélica de Santa Maria (Catedrala Evanghelică Sfânta Maria).
Ela foi construída em etapas, entre os anos de 1300 e 1520 sob o local onde já havia uma a igreja bem mais simples do século XII.
Sua torre de 73m de altura pode ser vista de vários pontos da cidade e a sua fachada é muito bela.
Mas de verdade, o melhor está do lado de dentro…
Ela é toda ornamentada com esqueletos de pedra e túmulos que datam do do século XVII.
Dentre eles está o túmulo de Mihnea Vodă cel Rău (Príncipe Mihnea, o Malfeitor – que nome lindo, né??? #Ironia), filho de quem? Quem??? Vlad Ţepeş. Para encontrar o túmulo dele basta ir atrás do órgão. O príncipe foi assassinado em frente à igreja em 1510.
Lá também está instalado o órgão mais antigo de toda a Romênia.
Fica na Piaţa Huet, o ingresso custa 5/2 lei (adulto/criança) e mais 8/3 lei para acessar a torre, e abre de segunda a sábado das 9hs às 20hs e domingos das 11h30 às 20hs.
Dividindo a Piata Mica e a Piata Mare, fica outra importante igreja de Sibiu, a Igreja da Santíssima Trindade (Biserica Romano-Catlica Sfanta Trieme), que como o nome deixa entender é a principal igreja católica de Sibiu.
É uma igreja Jesuíta, das mais belas da Transilvânia e construída em 1733.
Interessante que esta igreja representa um pouco da disputa entre protestantes e católicos na Romênia.
Com a adesão da maioria da população local à Reforma Protestante, todas as igrejas ali até então existentes foram adaptadas para serem luteranas. Acontece que com a anexação de toda a Transilvânia pela Monarquia de Habsburgo no século XVII, criou-se uma pequena comunidade católica na cidade.
Os jesuítas compraram alguns edifícios da Piata Mare, mas a prefeitura negou a autorização para levantarem ou transforarem um dos edifícios em igreja católica. Olha aí o uso político da religião, e vice-versa…
Só em 1721, com uma intervenção de um general foi que os jesuítas conseguiram a tal autorização e levantaram finalmente a igreja.
Dali para a Piaţa Mare, propriamente dita.
A maior praça de Sibiu data do século XIV, quando a cidade se consolidou como um importante centro comercial da região e lá um enorme mercado acontecia. E claro que de vez em quando algumas execuções públicas também rolavam por ali.
Com 142 metros de comprimento e 93 metros de largura, é uma das maiores da Transilvânia.
Os prédios ao redor dela são uma mistura de estilos: gótico, renascentista, barroco, e até o rococó. Praticamente um mosaico arquitetônico.
Não só nesta praça, mas noutros lugares de Sibiu você notará algumas janelas bem interessantes nos telhados, como que pequenos olhos observando os pedestres.
Algumas pessoas dizem que elas são assim para que aqueles dentro das casas possam vigiar os que estão na praça, ou para evitar o contrário. O mais aceito é que trata-se de um estilo arquitetônico pensado mesmo no clima frio, pois quanto maior a janela naquela época, mas gelado o cômodo ficava.
Na Piața Mică um bom exemplo deste tipo de construção está no número 12, num edifício do século XVI:
Uma das construções mais importantes é o Palácio Brukenthal, que hoje abriga um museu de arte com uma das mais importantes coleções da Romênia.
Um edifício importante e interessante ali é a Sibiu City Hall (Banca Agricolă) um edifício art nouveau, datado do início do século XX.
Prometo que é a última igreja de Sibiu à qual farei aqui referência… Para quem nunca visitou uma igreja ortodoxa, é uma tremenda oportunidade conhecer uma em Sibiu.
A Catedral da Santa Trindade de Sibiu (Catedrala Sfânta Treime din Sibiu) é a principal igreja ortodoxa da região, e arrisco que se você quiser ver apenas uma igreja em Sibiu, veja esta.
O seu estilo é bem diferente. Chama-se neobizantino e por mais que pareça super antiga, ela é na verdade de 1902, o que para Sibiu até que é “novo”.
A nave interior é consideravelmente grande, com 53m de comprimento por 25m de largura no centro, e uma cúpula com 15 m de diâmetro e 34m de altura.
Como eu disse no começo deste post, Sibiu era circundada por uma muralha e torres. Algumas poucas torres ainda existem, sugiro que você dê uma espiada em duas delas, bem próximas, a Turnul Olarilor e Turnul Dulgherilor, além de uma sessão bem preservada da muralha que de um lado tem a cidade e do outro um parque.
Tudo isso fica mais ao sul, perto da igreja ortodoxa.
E aí? Que tal agora você fazer as suas malas para Sibiu?